A partir do início dos anos dois mil tinha-se percebido que algumas das ideias mais generosas e emblemáticas da chamada Reforma Roberto Carneiro não funcionavam. Vários governos, de diferentes orientações, começaram a centrar-se no que era fundamental, as aprendizagens consolidadas e na necessidade de prestações de provas, que tornasse evidente se essas aprendizagens eram ou não feitas. Para além dos exames do ensino secundário, já existentes, foram introduzidas as provas finais do 9.º ano, em Português e Matemática, e, num segundo momento, provas finais, nas mesmas áreas disciplinares, nos 4.º e 6.º anos. O sistema de ensino tinha encontrado um objectivo claro. A expectativa seria a de um paulatino alargamento das disciplinas em que os alunos viessem a ser chamados a prestar provas, e com eles as escolas e os seus projectos educativos.
O que se passou foi exactamente o
contrário. As provas do 4.º e 6.º anos desapareceram. As do 9.º estiveram
suspensas durante a pandemia e nada garante que não desapareçam. Os próprios
exames nacionais parecem deslizar para se tornarem apenas provas de ingresso no
ensino superior. Depois, as provas de exame apresentam critérios de
classificação cada vez menos exigentes. Um exemplo na disciplina que lecciono.
Em 2015, num exame de Filosofia uma questão de escolha-múltipla valia 5 pontos.
Um texto argumentativo, a mais alta competência trabalhada na disciplina, valia
30 pontos. Em 2022, as questões de escolha-múltipla valiam 11 pontos e o texto
argumentativo, 14. Isto diz tudo. As escolas são hoje em dia barcos à deriva,
onde o saber disciplinar é desvalorizado, onde aquilo que é marginal se tornou
importante. O tempo, sempre escasso para o ensino das disciplinas, é ocupado
com actividades que pouco ou nada acrescentam na formação dos alunos. Não admira
que as novas gerações, assim preparadas para o que é fácil, fujam da Matemática
e da Física, fujam de tudo o que é difícil.
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