domingo, 3 de dezembro de 2023

As eleições e o destino de cada um


Parece-me absurda a estratégia que os principais partidos políticos estão a seguir. À esquerda acenando com o fantasma do Chega, do populismo e do fascismo. À direita com o espantalho da geringonça ou do gonçalvismo. Tudo isto é patético. A esquerda escusa de perder tempo com a anunciação do apocalipse fascista, isso não lhe trará votos. A direita pode poupar-se com profecias sobre a desgraça de uma eventual geringonça, pois também não lhe trará votos. As pessoas não estão interessadas em qual dos papões é mais feio e assustador. Ambos os lados falam para os militantes, os comentadores televisivos e as redes socais mais políticas. Quem habita nesses mundos está já mais do que convencido. Portanto, é chover no molhado.

Há coisas que são estruturais para o país, mas não interessam os portugueses, pois, sobre elas, há um amplo consenso. A pertença à NATO, à União Europeia e até ao Euro. São questões fundamentais para a nossa existência, mas ninguém as sente em perigo e, por isso, não são convocadas. Outra coisa que não gera um voto, pois os portugueses são em relação a ela uma espécie de sonâmbulos, é a perigosíssima situação internacional. Muito do que vai acontecer ao nosso destino, enquanto portugueses, depende daquilo que se passa na Europa e no mundo. Uma vitória de Trump em 2024 e uma derrota da Ucrânia na guerra são acontecimentos suficientes para fazerem tremer a União Europeia e ameaçar a segurança dos países que a compõem. Outra coisa fundamental que não mobilizará o eleitorado será as consequências das alterações climáticas. Na verdade, com excepção de alguns activistas, como agora se diz, ninguém quer saber.

Aqueles são temas muito importantes, mas a que os eleitores são indiferentes. Contudo, há ainda um vasto campo em que as pessoas estão interessadas. Terão as novas gerações de ser efectivamente mais pobres do que as gerações anteriores? Qual o destino da saúde pública? Como é que vai ser acautelado o sistema de reformas das gerações já reformadas, mas também daquelas que estão e estarão no activo? E o problema da habitação, um problema estrutural anterior ao salazarismo, o que terão os candidatos a dizer aos portugueses? Embora não seja um tema mobilizador para muitos eleitores, também o que se pretende para educação preocupará parte do eleitorado. O que preocupa os eleitores não é o populismo ou o gonçalvismo, não é o Chega ou a geringonça. O que os preocupa é o seu destino pessoal, naquilo em que eles supõem que um governo pode actuar. Talvez fosse boa ideia falar para as pessoas que vão votar. E já agora explicar com que dinheiro vão pagar as promessas.

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