Assistimos, nos dias de hoje, ao maior desafio que, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, foi colocado à cosmovisão liberal. Esta visão do mundo não diz respeito apenas à economia. Ela é, fundamentalmente, uma perspectiva assente nos direitos individuais e em regimes pluralistas. A ordem liberal é aquela em que a liberdade individual é o fundamento da vida em sociedade. Esta visão é uma coisa recente na história da humanidade. Foi-se estruturando, lentamente, na Europa e na América, a partir dos séculos XVII e XVIII. Enfrentou, no século XX, grandes desafios, entre eles as ideologias antiliberais do fascismo, do nazismo e do comunismo. A ordem liberal venceu as primeiras duas em 1945 (fim da Segunda Guerra Mundial) e a terceira em 1989 (queda do Muro de Berlim).
Como é que uma ordem internacional e uma visão do mundo triunfantes parecem decair de modo tão rápido? A Europa e a América liberais terão interiorizado a ideia de fim da história e pensado que o destino dos povos não livres seria o de acederem, com o tempo, a regimes assentes nos direitos indivíduos, na economia de mercado e em democracias representativas. Em 1979, a revolução iraniana fora um aviso que não foi lido no que tinha de anunciador. Foram precisos vinte anos e o ataque às Torres Gémeas para se começar a vislumbrar que a cosmovisão liberal estava sob ataque. A partir daí, foi nascendo uma coligação de potências pouco interessadas nos direitos individuais e na democracia representativa. Com uma novidade. A principal potência despótica não é a de uma economia atrasada, apenas preocupada com a dimensão militar. A China é uma grande potência económica e tecnológica, capaz de fazer frente ao mundo ocidental a todos os níveis.
Ao mesmo tempo que a coligação dos
regimes despóticos enfrenta os regimes liberais na arena internacional, no
interior das democracias, explorando a liberdade que aí reina, afirmam-se
movimentos que, ideologicamente, estão muito mais próximas das potências
despóticas do que da cosmovisão liberal. Esta está a ser desafiada não apenas
na dimensão geopolítica, onde perde continuamente influência, mas também no
interior dos países democráticos pelos partidos e movimentos populistas. A
confusão em que parece que vivemos não é outra coisa senão a guerra de uma
muito ampla coligação de potências e movimentos contra as liberdades
individuais e a visão liberal do mundo e das relações sociais. O que está em
jogo é a substituição de um modo de vida, o nosso, onde a liberdade é o bem
supremo, por outro onde a liberdade de cada um tem escasso ou nulo valor.
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