Ignacio Zuloaga y Zabaleta, Paisaje, 1939-1940 |
Um
rio cresce em castelo inexpugnável,
império
de lodo sobre o barro,
serpente
de geometria variável
a
arder no fogo branco de toda a água.
Quando
pelas manhãs o mundo estremece,
a
luz fluvial estreita no seu abraço
a
erva fresca, o salgueiro debruçado,
aberto
no solstício das margens.
Um
rio de pescadores sonâmbulos,
acordado
pela noite,
pelo
correr das gerações, os peixes lívidos
deitados
no chão da barcaça.
Destilado
na tristeza, cresce incógnito,
a
alma desolada entre pomares,
grávido
de vozes inúteis, sem sol, sem sal
sem
uma janela aberta para o mar.
Um
rio é uma paixão soterrada na memória,
cântico
saturado pela resina do tempo,
cuidado
por uma lavoura arcaica,
pela
bênção de púrpura da estrela da tarde.
Cisnes
e sombras cruzam as águas
e
no rasto da recordação abre-se um sulco,
a
constelação embriagada
sobre
o instante apresado pela voz.
Julho de 1993
[Conjunto de cinco poemas pertencentes à série Cânticos da Terra Amarela]
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