A moralidade na esquerda manifesta-se, por norma, sob a forma da indignação. Por exemplo, a questão colocada por Alexandra Leitão, do PS, aquando do episódio dos turcos, ao Presidente da Assembleia da República, transpira de indignação. Contudo, teria sido melhor que a sua intervenção, caso quisesse falar das considerações sobre os turcos, lembrasse que a Turquia é uma aliada de Portugal, no âmbito da NATO, e não é patriótico estar a desconsiderar, na Assembleia da República, um povo com o qual estabelecemos uma aliança de defesa, acrescentando que não devemos tratar os outros como não gostamos que nos tratem a nós, recordando o episódio de um certo comissário holandês e o que ele disse dos povos do Sul da Europa. Seria uma intervenção política e colocaria o líder do Chega numa situação mais difícil.
Não é que a direita e, em particular, a extrema-direita não recorra às emoções e à indignação. Contudo, quando o faz, consegue capitalizar apoios. O mesmo não se está a passar à esquerda. O recurso à moralidade e à indignação não lhe tem sido favorável, pois aquilo que emociona e indigna a esquerda deixou de ter poder para penetrar no eleitorado. O espírito do tempo não lhe é propício. Por isso, deveria ser mais racional nas reacções, não se comportar segundo os princípios do reflexo condicionado de Pavlov, e não se indignar sempre que a extrema-direita quer que ela se indigne, bastando a esta uma expressão provocatória para tirar proveito da reacção indignada da esquerda, capitalizar apoios, afirmar a sua agenda e ridicularizar a esquerda. Nos dias de hoje, é necessário, à esquerda, muita inteligência e a indignação não ajuda ao uso dessa inteligência.
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