Hippolyte Flandrin, View of Rome at Night, 1836 |
luz
violeta caindo na pedra da pobreza,
a
parca flor sedenta.
O
tempo da lua é um oiro baço,
a
miragem do metal erigida na estátua,
o
mármore incompleto da voz.
Vibra
a cinza do cetim na ogiva da tarde,
a
dor resplandecente da maresia.
É
o tempo dos senhores, a fundação do mundo,
o
trabalho ensanguentado do grão na boca.
Assim
vestido, Salomão colhia os lírios
e
abria crateras na sombra da Lua.
Entre
as pernas da mulher,
um
orifício lunar, a taça sangrante de luz,
jorro
de água na terra arável.
De
dia, as mães colavam os lábios
ao
vidro das janelas,
e
do perfume das bocas nascia uma névoa,
a
cortina da noite no globo do mundo.
A
Lua é um jacto de água,
um
sol cansado de olhar a terra.
Pelas
suas mãos descem pálpebras,
colinas
de feltro na paisagem.
No
centro do planeta, no jardim de ferro,
pulsa
a voraz a voz de quem escreve,
a
substância do mundo insinuada no coração.
Maio de 1993
[Conjunto de cinco poemas pertencentes à série Cânticos da Terra Amarela]
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