Há outros dados inquietantes. O comportamento do governo húngaro ameaça constantemente os consensos europeus. Também, ao nível da NATO, a Turquia está longe de ser um parceiro com uma visão geopolítica completamente coincidente com a do mundo ocidental. A vitória, em Novembro, de Donald Trump pode ter efeitos muito desagradáveis para a União Europeia e o espaço ocidental. Por um lado, pode potenciar o crescimento das forças europeias de extrema-direita e os seus projectos soberanistas que, na prática, visam implodir a União tal como a conhecemos, assente na mitigação dos egoísmos nacionais e substituí-la por afirmações soberanistas, as quais, como se viu nos séculos XIX e XX, são, entre si, incompatíveis. Por outro, o fim da NATO deixará a Europa entregue a ela própria e este é um problema muito mais sério do que se supõe.
O fim da NATO, caso aconteça, não fragiliza as potências europeias (todas elas médias e pequenas) apenas perante a Rússia, mas também perante a Turquia, que, por certo, sonhará com a reconstituição do império Otomano e com a liderança do mundo muçulmano perante o mundo que, um dia, foi cristão. A questão que se coloca aos europeus, habituados a níveis elevados de bem-estar, mesmo em Portugal, é se estão dispostos a defender o seu modo de vida, a investir fortemente nas forças armadas, tanto nos recursos materiais como nos recursos humanos. Isso implicará uma clara derrota da extrema-direita e dos seus projectos de afirmação dos egoísmos nacionais e um reforço da União tanto ao nível político e económico, mas, acima de tudo, militar, criando meios de defesa credíveis e com capacidade de dissuasão de potenciais inimigos. A União Europeia provou que funciona bem num clima pacífico e sem ameaças. Falta provar se funciona em tempos de grande turbulência como aqueles que se avizinham.
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