quinta-feira, 20 de junho de 2019

A esquerda e a educação como balda pós-moderna

Giorgio Chirico, Gladiadores y león, 1927
Por vezes, ainda consigo ter um breve momento de esperança relativamente à forma como a esquerda vê a educação. Eu sei que são apenas breves instantes, mas é consolador ver alguém de esquerda, Raquel Varela, dizer: Não acredito que o processo educativo ou cultural seja uma democracia em que todos conversamos e todos damos opinião – como se quer fazer nas escolas públicas hoje. Uma balda pós-moderna que está a destruir liceus e faculdades. A actual política educativa não passa de uma "balda pós-moderna", originada pelo PS, mas que tem como cúmplices activos o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português. É desesperante, para alguém que se situa politicamente à esquerda, ver o que acontece na educação em Portugal, ver como os alunos das escolas públicas vão ser trucidados pelos das escolas privadas, observar como se impõem - a palavra é mesmo esta - práticas absurdas e ideias erradas aos professores, violando a sua consciência. É isto que a esquerda está a fazer na educação.

O texto de Raquel Varela põe, por outro lado o dedo na ferida, numa ferida que a esquerda não quer enfrentar, culpabilizando os professores pela sua existência. A autora do texto diz: O que é um facto – indiscutível – é que somos muito melhores professores quando temos alunos que querem aprender. Quando morre a vontade de aprender, a de ensinar perde-se paulatinamente também. Este enunciado traduz uma realidade que as políticas educativas nacionais - e as da esquerda em primeiro lugar - escondem, invertendo-o. Na prática, as políticas educativas estão fundadas na crença - raramente reconhecida em público - de que a culpa dos alunos não quererem aprender é dos professores, das suas metodologias arcaicas, etc. Esta crença, porém, não permite enfrentar o verdadeiro problema. Nem sequer deixa formulá-lo: por que razão parte muito significativa da população escolar não gosta de aprender, não possui curiosidade pelo saber, entra já assim no ensino?  Por uns instantes, Raquel Varela reconciliou-me com a esquerda em matéria educativa. O problema é que para a esquerda a opinião de Raquel Varela não conta para nada. A esquerda educativa prefere as suas ilusões e tem sempre à mão um bode expiatório, os professores.

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