AGUSTINA BESSA-LUÍS.
O século XX português teve uma mão cheia de excelentes romancistas. A
atribuição do Nobel a Saramago reconheceu isso. Se tivesse sido a Agustina, não
teria ficado mal entregue. A sua obra é a mais desafiante de todas as obras
romanescas portuguesas do século passado. A iluminação da natureza humana, a
exploração das suas motivações mais recônditas, a capacidade de ver o real,
tornam-na uma leitura obrigatória. Morreu na segunda-feira, ao 96 anos. Fará
parte do cânone da literatura portuguesa. É preciso, porém, que os leitores
continuem a ler os seus livros.
A CRISE NA DIREITA.
O Presidente da República, saudoso do papel de comentador, decidiu perorar
sobre uma eventual crise na direita. Rui Rio respondeu dizendo que se há crise,
ela é do regime e não da direita. Centeno afiançou-nos que o regime está de
saúde. É verdade que o regime tem tido capacidade para encontrar soluções
políticas diferenciadas e sobreviver. Claro que o PSD e o CDS parecem viver uma
crise, mas isso apenas se deve ao facto de estarem afastados do poder. Os
partidos de vocação governativa sempre que estão na oposição parecem
moribundos, mas se conseguem chegar ao poder, revigoram-se e tornam-se atletas
de alta competição.
A DOENÇA DA
SOCIAL-DEMOCRACIA EUROPEIA. Verdadeira crise é aquela que se abateu sobre a
social-democracia europeia. Com exclusão dos socialistas portugueses e
espanhóis, a tradição política social-democrata europeia está em estado
comatoso. O desaparecimento do PS francês e as votações humilhantes dos
trabalhistas ingleses e do SPD alemão, nas europeias, dão-nos um quadro clínico
de prognóstico muito reservado. É possível que estas velhas instituições
políticas, nascidas dos efeitos sociais da Revolução Industrial, comecem a não
encontrar lugar no novo universo político gerado pela globalização e a
revolução digital.
O PROBLEMA DA TEIA.
O novo processo judicial que envolve autarcas socialistas do norte do país é,
esse sim, uma péssima notícia para o regime. Independentemente da existência ou
não de culpa por parte dos arguidos, este tipo de processos reforça a voz
popular que tende a generalizar, de forma injusta, a ideia de que todos os
políticos são corruptos. Aquele lugar-comum que os partidos propagam, quando
são atingidos por casos de polícia, de que as questões de justiça são tratadas
pela justiça, é um expediente inútil para não assumir que casos de justiça que
envolvem políticos são também, aos olhos dos cidadãos, casos políticos. Não
vale a pena tapar o sol com a peneira.
[A minha crónica no Jornal Torrejano]
Agustina viveu em Portugal toda a sua longa vida,escreveu livros,ensaios,conferências,etc.,etc.,uma obra extensa e vsriada. Nunca nessa obra encontrei referência à ditadura de Salazar-Caetano,às prisões arbitrárias, ao Tribunal Plenário, .à Guerra Colonial de 13 anos com dezenas de milhar de mortos,à fome generalizada,ao analfabetismo,à emigração desenfreada,etc.,etc..
ResponderEliminarA grande escritora estava atenta a quê?