terça-feira, 4 de junho de 2019

Sobre o êxito do PAN

Julio Gómez Biedma, En otros mundos

Uma das coisas que o êxito político do PAN (Partido das Pessoas, Animais e Natureza) torna manifesta, apesar de não ser tema de reflexão, é o fim da cosmovisão cristã nas sociedades actuais. Desde os séculos XV e XVI que essa cosmovisão está sob cerrado ataque. No entanto, durante muito tempo, esse ataque concentrou-se apenas na secularização dos grandes valores cristãos. Nas diversas doutrinas dos direitos humanos, ainda se sente a influência de uma cultura onde os homens foram criados à imagem e semelhança de Deus, onde Deus, feito homem, morreu pela salvação da humanidade. Mesmo numa ideologia aparentemente tão antagónica ao cristianismo como o comunismo se ouve o ressoar nítido dos valores cristãos.

Não há nada de mais anticristão do que essa linha de continuidade “pessoas, animais, natureza” presente na própria designação do PAN. Se o cristianismo mostra alguma coisa, essa é que o homem não é um ser natural. A permeabilidade da sociedade a ideologias que não compreendem já uma linha de ruptura entre o homem e as outras espécies significa que ela deixou já de ser – ou está prestes a deixar de ser – culturalmente cristã, mesmo que de forma secularizada. A atracção que o PAN exerce não é uma coisa inócua. Nela revela-se algo de novo. Não se trata de um neopaganismo como, por vezes, se pensa, pois os deuses pagãos são um sinal da descontinuidade entre o homem e os outros animais. Trata-se antes de algo que ainda não compreendemos e muito menos conseguimos avaliar as consequências políticas e civilizacionais.

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