Os portugueses são um exemplo típico de europeus não
praticantes. Não se dizem politicamente anti-europeus, pelo contrário. Também
não contestam os milhões de euros que entram no país através dos fundos
estruturais, que os ajudam a não terem uma vida miserável, e até aceitaram com
bonomia o castigo que, por mau comportamento, a União Europeia lhes impôs
através da troika. Mas assim como os
católicos não praticantes não vêem necessidade de ir à missa dominical, os
portugueses têm mais que fazer do que ir votar nas eleições europeias. A União
Europeia poderia ruir eleitoralmente e eles não mexeriam um dedo para pôr a
cruz no boletim de voto. Esta é a primeira ilação das eleições europeias.
Do ponto de vista dos resultados nacionais, o dado mais
saliente é o da fragmentação do sistema partidário. Até há poucos anos havia em
Portugal quatro famílias políticas sólidas, apesar dos altos e baixos. CDS,
PSD, PS e PCP. Depois chegou o BE, que consolidou o seu lugar nas opções dos
portugueses. As eleições europeias deste ano trouxeram uma novidade, o PAN.
Ecologia e redefinição do estatuto dos animais parecem encontrar em Portugal um
espaço político em expansão. Se assim for, o sistema partidário institucional
passa a seis partidos. Esta fragmentação indica-nos que será cada vez mais
difícil a obtenção de maiorias absolutas. Os portugueses já fizeram a
experiências diversas vezes, mas talvez não tenham apreciado particularmente o
resultado. Outros dados importantes são a rejeição da extrema-direita, bem como
a irrelevância das pretensões de Santana Lopes e da Iniciativa Liberal.
Na Europa, as coisas correram melhor do que se supunha e as
sondagens anunciavam. Os soberanistas e a extrema-direita cresceram, mas de
forma contida. No entanto, há uma novidade interessante no campo europeísta.
Este deixou de ser comandado pelos acordos entre as famílias do PPE
(centro-direita) e do S&D (centro esquerda). Intrometeram-se os liberais e
os verdes, o que representa também uma tendência de fragmentação do mainstream europeísta. Olhando para o
panorama político europeu, este tornou-se mais complexo e mais exigente. Há
medos e preocupações relativos à identidade política que se manifestam no
soberanismo, mas também as preocupações com as alterações climáticas e a
liberdade encontram uma forte expressão no novo Parlamento Europeu. Estes
resultados globais dão à União Europeia um momento para respirar. Veremos se há
força e talento político suficientes para evitar a decadência do projecto
europeu.
[A minha crónica em A Barca]
Excelente análise.
ResponderEliminarAbraço
Obrigado.
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