segunda-feira, 3 de junho de 2019

Eleições europeias


Os portugueses são um exemplo típico de europeus não praticantes. Não se dizem politicamente anti-europeus, pelo contrário. Também não contestam os milhões de euros que entram no país através dos fundos estruturais, que os ajudam a não terem uma vida miserável, e até aceitaram com bonomia o castigo que, por mau comportamento, a União Europeia lhes impôs através da troika. Mas assim como os católicos não praticantes não vêem necessidade de ir à missa dominical, os portugueses têm mais que fazer do que ir votar nas eleições europeias. A União Europeia poderia ruir eleitoralmente e eles não mexeriam um dedo para pôr a cruz no boletim de voto. Esta é a primeira ilação das eleições europeias.

Do ponto de vista dos resultados nacionais, o dado mais saliente é o da fragmentação do sistema partidário. Até há poucos anos havia em Portugal quatro famílias políticas sólidas, apesar dos altos e baixos. CDS, PSD, PS e PCP. Depois chegou o BE, que consolidou o seu lugar nas opções dos portugueses. As eleições europeias deste ano trouxeram uma novidade, o PAN. Ecologia e redefinição do estatuto dos animais parecem encontrar em Portugal um espaço político em expansão. Se assim for, o sistema partidário institucional passa a seis partidos. Esta fragmentação indica-nos que será cada vez mais difícil a obtenção de maiorias absolutas. Os portugueses já fizeram a experiências diversas vezes, mas talvez não tenham apreciado particularmente o resultado. Outros dados importantes são a rejeição da extrema-direita, bem como a irrelevância das pretensões de Santana Lopes e da Iniciativa Liberal.

Na Europa, as coisas correram melhor do que se supunha e as sondagens anunciavam. Os soberanistas e a extrema-direita cresceram, mas de forma contida. No entanto, há uma novidade interessante no campo europeísta. Este deixou de ser comandado pelos acordos entre as famílias do PPE (centro-direita) e do S&D (centro esquerda). Intrometeram-se os liberais e os verdes, o que representa também uma tendência de fragmentação do mainstream europeísta. Olhando para o panorama político europeu, este tornou-se mais complexo e mais exigente. Há medos e preocupações relativos à identidade política que se manifestam no soberanismo, mas também as preocupações com as alterações climáticas e a liberdade encontram uma forte expressão no novo Parlamento Europeu. Estes resultados globais dão à União Europeia um momento para respirar. Veremos se há força e talento político suficientes para evitar a decadência do projecto europeu.

[A minha crónica em A Barca]

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