domingo, 14 de julho de 2013

Poema 74 - Este saber que nasce das águas marítimas

Claude Monet - Etretat (1883)

74. Este saber que nasce das águas marítimas

Este saber que nasce das águas marítimas,
do eterno jogo da rebentação,
dos gritos que do mar se soltam frios,
o fogo dissimulado a extinguir-se no oceano.

Uma fábrica de areia e sal estende-se para poente,
dissimula-se e ronrona na manhã perdida,
para chegar transfigurada ao cair da noite
e rugir entre dunas e rochas escarpadas.

Trago em mim um filme oceânico,
a memória de todos os barcos que partiram
e deixaram um rasto ultramarino
em cada porto onde nunca aportaram.

Eis a silenciosa solidão da mulher que olha
e traz em cada dedo um anel de algas azuis,
e na mudez dos seus olhos há um cântico,
a vibração de uma onda sussurrada e ofegante.

Este é o mar que nasce na fonte da tua alma,
a sombra e o segredo das tardes de domingo,
quando o vento enfuna as velas eriçadas
e o corpo, navio  à deriva na praia do desejo.

2 comentários:

  1. Um poema muito belo.
    Por cima do areal a maré(-cheia)da poesia fala-nos de barcos carregados de memórias.
    Boa semana
    Abraço

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