terça-feira, 9 de julho de 2013

O reforço da coligação

Carlos Orozco Romero - O protesto (1939)

O Presidente da República ainda não concluiu a audição dos partidos, mas não dispõe já de qualquer margem de manobra para fazer outra coisa que não seja aceitar o acordo entre Portas e Passos Coelho.  Os mercados, o Ecofin e os alemães, a verdadeira fonte de legitimidade, já abençoaram o governo. A questão que se coloca agora é a seguinte: a coligação sai, de toda esta tramóia, enfraquecida ou reforçada? Parece óbvio, apesar daquilo que os comentadores sublinham, que a coligação no poder sai muito reforçada. Não porque tenha deixado de haver motivos para atritos e que tudo esteja agora bem. Pelo contrário, a situação entre os partidos do governo tornou-se mais sombria e as relações pessoais mais tensas. Como é que, neste cenário, se pode afirmar que a coligação sai reforçada?

A crise tornou patente aquilo que toda a gente sabe. Não existe, aos olhos da opinião pública, uma clara alternativa política que possa avançar para a governação do país. A esquerda está fracturada, como é hábito, e sem pontos de contacto entre si. Seguro é uma personagem política ao nível de Passos Coelho, nem melhor nem pior, o mesmo vazio, a mesma impreparação, o mesmo desconhecimento da realidade. Quer eleições apenas para ser ele primeiro-ministro, mas, na verdade, não tem nada para dizer ou fazer que seja diferente daquilo que se está a fazer. Aspira a uma maioria absoluta porque sim, mas se não a obtiver governará, com aquele ar de sacristão, com a direita. Talvez aspire a ser ovacionado numa próxima missa do Cardeal Clemente.

Quanto ao BE e ao PCP pouco há a dizer. Podem até valer 30% do universo eleitoral (vão nos 22 a 23%), mas não têm nada para dizer que seja audível para além do universo do protesto. É esta divisão na esquerda que reforça a coligação no poder, mesmo que as pessoas que a constituem se odeiem e se atraiçoem todos os dias. O trágico é que as pessoas sabem que o actual governo as irá imolar sem dó nem piedade, como o tem feito até aqui, mas também sabem que não existe uma alternativa política séria à imolação dos inocentes. Pensam que morrer sob o cutelo de Portas e Passos ou sob o punhal assacristoado de Seguro lhes é indiferente. Por isso não deram, nem darão, um passo para que sejam convocadas eleições. Com o calor que está, mais vale ir para a praia. A impotência da esquerda, motivada pelas suas eternas divisões orgânicas, tornou a direita inimputável. Pode fazer as cabriolices que lhe apetecer.

7 comentários:

  1. Quando me lembro do que aconteceu no Chipre e da desilusão que constituiu, estremeço.
    Poderá a esquerda estar no poder quando os parâmetros em que se movimenta continuam a ser um "dictate" do Capitalismo reinante na UE?

    Por questões de coerência, de honestidade intelectual e de ética, vou continuar a acreditar e a intervir.
    Deixem-me ao menos ser do contra como sempre fui, desde a tenra adolescência, não obstante reconhecer que hoje, é mais por tropismo...

    Bom artigo

    Abraço

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    1. Ser do contra é sempre uma posição interessante e, mais do que isso, ser do contra é a única posição moralmente aceitável.

      Abraço

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    2. Também considero que o discurso da esquerda já viu melhores dias... pena. Por causa do que diz, exatamente.(Grande post.:))

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    3. Muito obrigado. A esquerda precisa urgentemente de encontrar caminhos para além do protesto e da indignação, ou da submissão, no caso do PS.

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  2. Em nome de algum pragmatismo, mais do que em defesa de uma pureza de princípios, penso ser mais útil ao futuro que se encontrem alguns patamares de entendimento. Penso que há que estabelecer caminhos e depois arranjar forma de os percorrer - mesmo que uns vão cantando, outros pregando, outros refilando.

    Parece conversa fiada mas penso que é muito objectiva. Se eu estivesse na política partidária, diria: aposto no desenvolvimento do país, rejeito o retrocesso civilizacional. Quero que a economia cresça, que o conhecimento floresça e frutifique, que a demografia se equilibre, que o país volte a ser hospitaleiro e um sítio onde apeteça viver. A partir disto, quem é que genuinamente se quer juntar no caminho?

    Parece ingénuo? Não é. Um percurso feito com base nestas premissas é exigente e exige dureza e persistência.

    Mas, para mim, é o único caminho que vale a pena.

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    1. Também acho pensável essa plataforma comum, que seria uma espécie de consenso geral que sustenta a democracia e a diferença política. Não me parece, porém, que os partidos políticos estejam interessados nisso. Outros interesse se levantam.

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