Rufino Tamayo - Llamada de la revolución (1935)
Em todo este drama que se abateu sobre Portugal, aquilo que não deixa de me surpreender é a baixa atracção que os partidos de protesto - PCP e BE - continuam a ter. Seria expectável que, com a aplicação do programa da troika, as sondagens mostrassem uma afirmação clara destes partidos. A verdade, porém, é que isso está longe de acontecer. A sondagem publicada há dois dias no Correio da Manhã mostra até o contrário, a soma de ambos, no último mês e já depois das peripécias governamentais que todos conhecemos, recua cerca de três pontos percentuais. Somam agora cerca de 17% contra os cerca de 71% do arco da troika.
Mostrarão estes resultados que existe um largo consenso nacional sobre o caminho a seguir? Em aparência sim. Na verdade, porém, a realidade é outra. PCP e BE são vistos apenas como partidos de protesto, mas que não têm qualquer solução viável para o problema onde nos encontramos metidos. Independentemente daquilo que pensam militantes e dirigentes desses partidos, eles não fazem parte, segundo os portugueses, da solução e como tal as sondagens que possam mostrar o seu crescimento nunca disparam verdadeiramente.
É pena que PCP e BE sejam vistos apenas como partidos de protesto, é pena que eles, de forma deliberada, passem também essa imagem para a opinião pública. Em primeiro lugar, ambos têm um ethos muito diferente dos partidos de governo, um ethos marcado pelo respeito pelo bem público, marcado por colocar o bem da comunidade acima do interesse dos agentes políticos. Em segundo lugar, ambos defendem um conjunto de valores políticos, nomeadamente ao nível das funções sociais do Estado, que mereceriam ser defendidos não apenas pelo protesto mas pelo compromisso político.
Se ambos os partidos se dispusessem a um compromisso histórico com os socialistas, um compromisso que se situasse dentro da realidade (e a realidade é que estamos sob assistência financeira) em que vivemos e que visasse a defesa do essencial, talvez os portugueses olhassem para eles com mais atenção e percebessem que alguma coisa de novo poderia vir da esquerda. Não vale a pena esperar o chamamento da revolução social, os portugueses são surdos para ele. Mas certamente teriam ouvidos muito atentos para uma ética do respeito pelo bem comum e para o compromisso que os ajudasse a sair do lodaçal onde o arco da governação os meteu.
Muito bem visto, também esta questão das sondagens desta esquerda já me havia intrigado. Por um lado, pode ser como diz, são apenas vistos como partidos contestatários e mais nada, por outro, parece ainda persistir a história das criancinhas ao pequeno almoço... De ambas as formas, é preocupante que tudo esteja sempre nas mãos do centrão e dos mesmos de sempre. Com os resultados que estão à vista... Sempre mais do mesmo, sem espaço para os outros, como se viu até pela "cavaqueira" iniciativa. Finalmente, estes partidos também necessitam de alterar o discurso, menos contra tudo e todos e mais realismo. Mt bom, Jorge, once again.
ResponderEliminarNa verdade, as pessoas não têm medo do PCP e do BE. Isso acontecia quando havia a União Soviética, mas isso acabou. Agora não lhes dão crédito suficiente, só isso.
EliminarOlhe que não... :) Quer dizer, olhe que sim, Jorge. É só ver a caixa de comentários nos blogues coletivos. Há lá tanto ódio aos bloquistas e aos comunistas que tanta emotiva irracionalidade só pode advir do medo... e dos tempos que eram a leste e que ainda são por alguns pontos do globo. Uma vez que nunca estiveram no poder, efetivamente, aqui. Pelo menos que eu tenha assistido...
EliminarSabe, esses comentários são feitos por "profissionais". Não são irracionais, são deliberados, são contra-informação e agit-prop.
EliminarO compromisso Histórico: A nostalgia do sonho ainda permanece indelével, apesar do "tempo" que o tempo teimou, sem conseguir, em fazer esquecer: Enrico Berlinguer que faleceu e Aldo Moro que foi assassinado.
ResponderEliminarEsteve quase... mas a “guerra fria” sabia bem o que (não) queria e a CIA , o KGB e as brigadas vermelhas, fizeram o “papel” que lhes interessava.
Mas isto é outra história, que a História há-de um dia registar. Espero bem.
Quanto ao “compromisso histórico” entre as esquerdas, Salvador Allende (uma figura ímpar do século XX) foi vítima da sua honestidade ideológica e intelectual quando tentou combater o “império” e unir as esquerdas.
No que a Portugal diz respeito, sou suficientemente pragmático para perceber que, talvez um dia, depois de correr muita água sob as pontes, estas poderão finalmente unir as margens que, como diz Brecht, comprimem o rio.
Se tiver oportunidade e paciência, sugiro-lhe um poste que escrevi há uns anos. É só fazer uma extrapolação da cidade para o país.
http://bonstemposhein-jrd.blogspot.pt/2009/10/de-lisboa-da-esquerda-e-das-esquerdas.html
Um abraço
Belíssimo Carlos Botelho aquele. Sim, tem razão, facilmente se faz a extrapolação da cidade para o país. A continuar assim, qualquer dia não haverá nem margens, nem rio, nem o quer que seja. Talvez as elites políticas de esquerda sejam pacientes, mas as pessoas só tem uma vida. Seria bom que entendessem isso.
ResponderEliminarAbraço