A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Escrevo depois de ouvir a patética declaração do primeiro-ministro.
Repeti a pergunta que faço muitas vezes: como foi possível chegar a um ponto em
que entregámos a governação do país a gente tão imatura e irresponsável? Não
sou contra os partidos políticos. Sem eles não há democracia, pelo menos nos
moldes a que estamos habituados. Mas não deixa de ser extraordinário que os
partidos políticos tenham uma capacidade inesgotável de promover gente
medíocre. Esta mediocridade infantil não permitiu ao governo, com uma ou outra
excepção, perceber o país em que se vive.
Todo este imbróglio não se deve ao mau génio do Dr. Portas nem à
maldade do Prof. Gaspar. Isto nasce da tontice, de todo o governo e da União
Europeia, de querer, de um dia para o outro, transformar um país envelhecido e
muito fragilizado socialmente, com diminutas competências, com pouca capacidade
de iniciativa, com uma cultura de compadrio e de nepotismo, com uma dose de
irresponsabilidade social e individual grande, num país liberal, onde seres
racionais e autónomos gerem a sua vida sem dependências do Estado. Este desejo
do governo de Passos Coelho é mais infantil do que os meus delírios de teenager revolucionário,
nos anos setenta do século passado.
Uma sociedade liberal deve ser um ideal regulador da acção política e
da conduta moral. O que significa, na verdade, uma sociedade liberal?
Significa que os indivíduos que a compõem têm a capacidade de gerir
autonomamente o seu destino, que são dotados de iniciativa suficiente para
poderem enfrentar os infortúnios da existência, que as suas capacidades de
decisão racional estão educadas. Isto, porém, é um ideal. Portugal não é assim,
por isso os indivíduos precisam de mecanismos de protecção que só o Estado pode
actualmente fornecer.
Quando estes mecanismos são destruídos politicamente por um suposto programa
liberal, não é o liberalismo que nasce, não é o espírito de iniciativa que
cresce, nem são as decisões racionais que triunfam. O que triunfa e cresce é o
medo, o desespero, a vergonha, mas também a corrosão do carácter, a batota, o
salve-se quem puder. E são estes factores que estão a gerar este conjunto de
furacões políticos que se abatem, inexoravelmente, sobre agentes governativos
impreparados, cheios de preconceitos ideológicos e absolutamente impotentes
perante uma realidade que, na verdade, desconhecem. Para que o mal ainda seja
pior, Portugal tem a pouca sorte de ter em Belém Cavaco Silva, o maior
responsável político pelo estado a que se chegou.
Como foi possível?
Mais uma excelente análise, Jorge. Subscrevo, era o ideal mas não é possível chegar lá de dum dia para o outro. Precisamente pelo que refere.
ResponderEliminarÉ o trabalho de duas ou três gerações. Já se andou um pouco, mas ainda falta. Corremos o risco de regredir com estas políticas.
EliminarComeço a sentir alguma dificuldade em pronunciar-me sobre esta fatalidade, sem responsabilizar também aqueles que permitiram que aberrações da política, "patriotas" como o medíocre Cavaco, o lacaio Coelho e o perverso Portas,além da comandita, tivessem nas mãos o presente. E esses responsáveis são os eleitores.
ResponderEliminarPara aumentar a desesperança, não acredito que esta amarga lição seja apreendida para o futuro.
Abraço
Claro, os governos expressam os eleitores que há. E também estou de acordo, pouco ou nada as pessoas aprenderão com o que se passou.
EliminarAbraço