terça-feira, 1 de abril de 2014

Sob suspeita

(Foto encontrada aqui)

Recuperação de textos do meu antigo blogue averomundo, retirado de circulação. Este texto pertence a uma série denominada cadernos do esquecimento. Texto de 4.11.2009.

É preciso ir mais longe. Isto significa o quê? Significa que devemos desconfiar mais e melhor. Num tempo como o nosso, a suspeita deve recair sobre tudo e sobre todos. Em primeiro lugar, devemo-nos colocar a nós mesmos sob suspeita. Devemos suspeitar dos nossos actos, dos nossos pensamentos, dos nossos gestos, das nossas crenças, das nossas visões. Esta suspeita, porém, deve ser universalizada. A corrosão do carácter, para usar o belo título de um livro de Sennett, é universal, tão universal que já ninguém dá por ela. Aprendemos a viver segundo as regras dos corruptores, e pensamos que elas são não só a lei jurídica como a lei moral. O carácter corroído tornou-se inocência. Esta não é, porém, ausência do mal, mas o desconhecimento da maldade do próprio mal.

2 comentários:

  1. E os que resistem à (auto)corrosão do carácter, correm o risco de o ver assassinado pelos mandadores sem lei.

    Abraço (de volta)

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