Rodney Smith - Bernadette Twirling (not dated)
Um texto
novo a intercalar nos textos dos cadernos
do esquecimento provenientes do meu antigo blogue averomundo.
Por despretensiosa que seja, a escrita é sempre o exercício de uma
anormalidade. Se eu fosse uma pessoa normal não escreveria uma linha. Pessoas
normais não escrevem. Escrevo para olhar de esguelha o mundo e como estratégia para
refinar a minha arte de mentir. O mundo visto de frente parece-me tenebroso e
eu sinto-me ainda mais tenebroso se assim o encaro. Olhando-o de esguelha,
surpreendo-o e começo a mentir, acomodando na escrita uma ficção, onde tudo, a
começar por mim, se torna mais suportável. Escrever é o modo supremo de mentir.
Ora a mentira não é uma perversidade moral, mas a forma como alguém marcado pela
anormalidade torna o mundo menos insuportável. Na verdade, mentir é, como muito cedo descobrem as crianças para desalento dos pais, uma
virtude.
Picasso disse que a arte é uma mentira. Magritte confirmou-o à sua maneira.
ResponderEliminarMas na escrita o que custa mesmo é saber que há escribas que se alimentam do pão da mentira.
Abraço
O poeta é um fingidor...
EliminarAbraço