Guillermo Pérez Villalta - A Ilusão Permanente (1975)
Recuperação de textos do meu antigo blogue averomundo, retirado de circulação. Este texto pertence a uma série
denominada cadernos do esquecimento. Texto
de 19.11.2009.
É preciso não se deixar iludir. Esta vã presunção não deixa, no
entanto, de ser verosímil. Não nos devemos deixar iludir por quem? Em primeiro
e em último lugar, por nós, por aquilo que constitui a nossa opinião, pelas verdades
que transportamos, pela potência do nosso argumentário, pelos preconceitos que
apresentamos ao mundo como boas causas. Todas as nossas boas causas são falsas.
Os homens passam a vida a alertar para as ilusões e os enganos que os outros
disseminam na terra e na cabeça da gente boa. Importante, porém, é que se
abandone esse proselitismo negativo, essa pregação invertida, esse sermonário
sempre disponível para a conversão dos outros. Não nos deixemos iludir por
aquilo que queremos vender a nós próprios. Há que rir de si mesmo, olhar de
esguelha e desatar a gargalhar com as nossas pretensões, com a erudição que
possuímos, com o bem gosto que ostentamos. E não devemos rir de nós como
caminho para um eu mais autêntico. A autenticidade é uma nova forma de falsificação.
A autenticidade é a mistificação de psicólogos castrados. Devemos rir de nós
mesmos apenas por um motivo: somos absoluta e incuravelmente ridículos,
irrisórios, risíveis. Não há escárnio e maldizer suficientes para nos
caracterizarmos.
Quem consegue fugir do "wishful thinking"?
ResponderEliminarSomos o que somos e não o que julgamos que podemos ser.
Abraço
Isso. Somos o que somos.
EliminarAbraço