Há uma tendência – à esquerda do PS – para censurar
continuamente as agências de rating e
o papel que elas têm tido na dívida portuguesa. E como consequência dessa
censura dizer-se que as avaliações delas não devem ser tidas em conta, o que
interessa é a vida dos portugueses e não a opinião de agências de
especuladores. Ora é aqui que devemos perceber a distinção entre o que a
realidade é e aquilo que deveria ser.
Podemos questionar a moralidade ou não destas agências de rating. Ao olharmos para a sua história
e para muitas das suas decisões, ficamos convencidos de que o mundo seria, na
verdade, um sítio melhor se elas não existissem. Desconfiamos também que as
suas decisões arbitrárias prejudicaram o país e os portugueses. Em resumo, do
ponto de vista moral não é errado, antes pelo contrário, censurar as agências
de rating e o seu papel.
Se isso não é errado, será correcto dizer que Portugal e os
portugueses não devem prestar atenção aos juízos dessas agências? A resposta a esta
pergunta é composta por duas outras perguntas. Portugal poderá sobreviver com
avaliações muito negativas dessas agências? Os portugueses e as empresas
nacionais poderiam viver melhor sem uma avaliação positiva da nossa dívida por
parte dessas agências? A resposta a estas duas perguntas é uma só: não. Nem o
país, nem os portugueses, nem as empresas portuguesas têm independência
suficiente para serem indiferentes ao juízo desses agências.
Do ponto de vista político, a moralidade ou a imoralidade
das agências de rating é um problema
inútil. Não temos capacidade nem autonomia para viver sem esse juízo. Ele é-nos
imposto tal como os fenómenos naturais. Por muito que protestemos, os dias de
calor são dias de calor e os dias de frio são dias de frio. Quando se diz que o
facto da agência Standard & Poor’s
ter tirado a dívida portuguesa da categoria de lixo (uma metáfora que quer
dizer mau investimento) não é muito importante e que Portugal não pode depender
dessas agências para tomar decisões, está-se a mentir deliberadamente e a
vender uma ilusão.
Não temos poder para manipular o clima, para evitar os dias
de calor ou os dias de frio, mas podemos protegermo-nos do calor e do frio.
Também não temos poder para nos libertar das agências de rating, mas podemos protegermo-nos delas. Como? Controlando o
défice público (e o privado), não gastando mais do que é possível, gerindo com
rigor a fazenda pública e pagando a dívida para nos irmos libertando dela. Não
há outro caminho para nos protegermos da falta de moral das agências de rating. E é isso que todos devemos
exigir que aconteça e não semear a ilusão de que não dependemos delas.
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