Há uma coisa que é verdade na ideologia do Estado Novo, a
natureza multirracial do Portugal de então. Uma prova? A vitória, em 1967, de
Eduardo Nascimento, angolano, no Festival RTP da canção e, consequentemente, a
sua eleição para representar Portugal no Festival da Eurovisão. Uma aproximação
cançonetista (seria melhor dizer, uma terminação, como na lotaria) do Eusébio
do futebol. A guerra em Angola, que, se exceptuarmos o incidente indiano, deu o
tiro de partida para as guerras coloniais dos anos sessenta e setenta do século
passado, tinha começado há cerca de seis anos e faltavam ainda sete para
terminar. Curiosamente, Eduardo Nascimento é o autor do hino do MPLA. Apesar
dos ventos de mudança que a cançoneta apregoa, ainda faltava muito para que o
vento mudasse definitivamente. Este vento apenas falava de delíquios do
coração. E se havia coisa que o regime puritano e assexuado do professor
Salazar gostava era de delíquios de coração. Enquanto o coração treme, rebola e rodopia, a razão
descansa.
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