O Festival RTP da canção e o Festival da Eurovisão tinham um
peso enorme no panorama da música ligeira, era assim que então se dizia. Eram
acontecimentos que mobilizavam em torno dos ecrãs a generalidade das famílias
portuguesas, das que tinham televisão (nesses tempos a democratização do acesso
à televisão tinha ainda limitações). Verão,
de Carlos Mendes, foi a canção vencedora do Festival RTP de 1968, um ano de
intensa vida política por essa Europa fora, revoltas estudantis em França (que
depois se atearam por Itália, Alemanha, EUA) Primavera de Praga, na antiga
Checoslováquia. Por cá o ditador haveria de cair da cadeira. O imaginário
português, presente nesta canção, é o do Verão, com as suas aventuras
pequeno-burguesas e o tédio que se aproxima pelo fim da estação estival. Havia
toda uma mitologia em torno do Verão, uma mitologia própria de um país que
ainda não tinha descoberto as praias inundadas de gente e o turismo de massas.
É dessa mitologia, que tem no romance Sinais
de Fogo, de Jorge Sena, a sua legitimação, que esta cantigueta extrai a sua
existência.
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