A minha crónica no Jornal Torrejano.
O começo do ano lectivo é marcado pela generalização de uma
nova reforma do sistema educativo. A ideia que está na base de mais uma
aventura na educação portuguesa prende-se com a convicção da actual equipa do
Ministério da Educação de que o trabalho realizado pelo professorado está
globalmente desadequado às exigências do século XXI. Esta é uma crença que
depende da fé e não, obviamente e por impossibilidade factual, de nenhuma
informação empírica sobre o que será o futuro. Portanto, a reforma faz-se, como
sempre, em nome da ideologia. Para além da minha profunda desconfiança com a
ideologia educativa que suporta as novas orientações, saliento dois problemas
que me parecem fatais.
Em primeiro lugar, a sua preparação. Alterações destas num
sistema educativo exigem anos de estudo, planeamento, experimentação, avaliação
dos processos e dos seus resultados, antes que se chegue a uma generalização a
todo o universo escolar. O que vai entrar em vigor este ano não seguiu nenhum
desses trâmites. Não corresponde nem a um estudo nem a um planeamento sólido (é
apenas um conjunto de crenças da equipa ministerial). Teve um ano de
experimentação – o ano lectivo transacto – em escolas que se voluntariaram, mas,
como qualquer pessoas perceberá, um ano não permite qualquer avaliação séria de
processos e ainda menos de resultados. Vamos generalizar uma reforma educativa
que ninguém sabe se aumenta ou diminui as aprendizagens dos alunos.
O segundo problema diz respeito à exequibilidade material
dessa reforma. Em primeiro lugar, ela impõe alterações drásticas na fora de
trabalhar com os alunos. Ora isso exige um período relativamente longo de
preparação do professorado para que este possa compreender, experimentar e
apropriar-se daquilo que o governo pretende. A generalidade dos professores – e
não por culpa destes – está a zero (a definição do currículo aconteceu no final
de Agosto), sem qualquer tipo de formação. Em segundo lugar, o que se pretende
não se compagina com turmas grandes, como continuam a ser, nem com a forma como
estão organizados os espaços e os tempos escolares. Só a reforma do número de
alunos por turma e a dos espaços escolares implicaria um investimento
incomportável para o país.
Em resumo, a educação vai entrar, por iniciativa do governo,
num processo que não foi planeado e avaliado seriamente, para o qual os
professores não foram preparados e que exige, para que não seja uma catástrofe,
recursos humanos, financeiros e de equipamento que não existem nem existirão
nos próximos tempos. Talvez os responsáveis políticos acreditem num quarto
milagre de Fátima.
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