A chamada primavera marcelista, apesar de politicamente ter
sido um nado-morto impotente para resolver o problema colonial e fazer o país
transitar à democracia, não deixou de existir. A sua realidade não se deve,
porém, à iniciativa de Marcello Caetano e dos próceres do regime, mas à iniciativa
de uma juventude cansada de uma sociedade fechada e triste, marcada pela guerra,
pela clausura do país aos ventos que vinham do mundo ocidental e por um
puritanismo como máscara de uma moralidade social anquilosada e falsa. A denúncia
dessa tristeza, a injunção à alegria e o apelo à transformação da existência
numa festa são feitos quase como um apelo revolucionário (vamos cantar de pé). É
tudo isso o que se encontra nesta canção interpretada por Paco Bandeira, em
início de carreira, no Festival RTP da Canção de 1972. A letra é do poeta
Fernando Grade e a música do inevitável maestro Pedro Osório. Quem canta de pé é porque não está de joelhos.
Muito interessante. Lembro-me bem que era uma canção de esperança.
ResponderEliminarUm abraço
Era um tempo estranho, onde uma coisa inócua como um festival da canção da RTP servia para um tipo de canções que iam muito para lá do habitual nacional-cançonetismo.
EliminarAbraço