Iago Pericot, Deabat polític a la piscina, 1993 |
E se há coisa bem clara no estudo dos colapsos (da democracia) ao longo
da História é que a polarização extrema pode matar as democracias.
Steven Levitsky & Daniel Ziblatt, Como Morrem as Democracias, p. 17
A situação portuguesa é muito curiosa. O regime democrático,
segundo estudo internacionais, parece estar
de boa saúde em Portugal. Não existe, por outro lado, uma clivagem significativa entre os
grandes partidos presentes na Assembleia da República. Esta legislatura, com a
solução governativa encontrada, mostrou a existência prática de um consenso que
os mais distraídos não suspeitariam. No entanto, existe por parte de pessoas –
fundamentalmente, situadas à direita do espectro político, quase sempre fora dos partidos – um esforço tenaz de
polarização da situação política. O caso de Maria de Fátima Bonifácio (o
seu texto sobre as quotas e todas as reacções que provocou) tornou patente
esse desejo de polarização. Este desejo é marcado por um ataque
cada vez menos subtil a um conjunto de valores herdados do Iluminismo, entre
eles àquilo que está consubstanciado nos direito humanos.
A seguir ao 25 de Abril, a vida política
tornou-se muito polarizada, com responsabilidades tanto da esquerda como da direita. Apesar dessa
polarização se ter ido esbatendo com o passar dos anos e a consolidação da
democracia liberal, ela só foi, na verdade, ultrapassada com as presidências de
Mário Soares e a vinda dos dinheiros da União Europeia. Hoje em dia, na
sequência das crises financeiras, emergiu um discurso polarizador, onde a ideia
de adversário político é substituída pela de inimigo. Este é tido como a causa
de todos os males. Nota-se uma ânsia de confrontação e um desejo de
aniquilamento dos que pensam de forma diferente que não era visível há poucos
anos. Se encontrar quem lhe dê voz política, mesmo que seja um partido
fora do sistema, isso contaminará os próprios partidos que têm sido o
sustentáculo da democracia portuguesa. Como sublinham Levitsky e Ziblatt, é a
polarização extrema que pode matar a democracia. Parece ser nisso que certos
sectores estão apostados.
Que a direita sonhe com o passado,não espanta.Mas sonha com o passado até certo ponto. O passado total,para ela,é uma lição demasiado terrível!
ResponderEliminar