Apesar de se saber há muito que o sistema educativo
português reproduz e dá consistência às desigualdades sociais, um estudo da Edulog,
da Fundação Belmiro de Azevedo, veio confirmar essa realidade. Mostra-se aí que
os alunos das famílias favorecidas entram nos cursos mais apetecíveis e com
maior perspectiva de futuro, enquanto os das famílias mais pobres entram,
sobretudo, nos politécnicos. A escola pública não está a ser capaz de assegurar
a igualdade de oportunidades. As famílias com mais rendimentos ou capital
cultural tiraram mais vantagens do sistema educativo que as outras. Este é um
problema que a democracia não conseguiu resolver. O pior, porém, não está aqui.
As actuais políticas educativas são fundadas na ideia de
flexibilidade curricular, com a desvalorização da tradicional organização
curricular por disciplinas em nome de projectos ditos interdisciplinares, nos
quais os saberes disciplinares acabam por se dissolver. Quem conhece o sistema
educativo percebe de imediato que o caminho que se está a trilhar – já tentado
e já visto como perigoso – vai impedir que muitos alunos estruturem
conhecimentos e desenvolvam competências cognitivas fundamentais para disputar
o acesso aos cursos mais apetecíveis. Tudo isto é feito em nome da inclusão e
do combate ao insucesso escolar. O que vai acontecer, porém, é que o insucesso
escolar vai ser disfarçado. Provavelmente, ele só vai ser descoberto no momento
em que os alunos são seleccionados na entrada do ensino superior.
Enquanto a escola pública, como alguém escrevia no Público, vive – ou se prepara para viver
– um verdadeiro PREC educativo, as escolas privadas reforçam os seus mecanismo
tradicionais e preparam-se para acentuar ainda mais as diferenças sociais dos
alunos que entram para o ensino superior. O caminho iniciado por este governo
começou logo com um péssimo sinal, a abolição dos exames nacionais dos 4.º e
6.º anos. Nem sequer foi feita uma avaliação da sua utilidade. Em nome da
ideologia, com a desculpa de que não existiam noutros países ou por suposta
pressão psicológica sobre as crianças, foram pura e simplesmente abolidos. O
sinal estava dado para dentro do sistema. As actuais políticas educativas
querem reinventar a escola e reformar drasticamente as práticas docentes. Os
seus autores imaginam que alunos, famílias e professores são pura matéria
plástica, que um secretário de Estado pode moldar à sua vontade. Por norma,
esta crença gera o puro autoritarismo burocrático e a desgraça dos alunos que
são as suas principais vítimas. O sistema educativo actual reforça as
desigualdades? Sim, mas ainda vai reforçar mais.
[A minha crónica em A Barca]
Grosso modo, já era assim no tempo do antigo regime.
ResponderEliminarUm abraço
Mais coisa menos coisa, o modelo, mesmo quando se diz que não, é esse.
EliminarAbraço