sábado, 20 de julho de 2019

Balanço político da legislatura



Partido Socialista. Nunca, na história da democracia portuguesa, tinha havido um governo suportado por toda a esquerda parlamentar. António Costa e os socialistas foram os grandes beneficiários da inovação. António Costa tinha a vida política por um fio. O Partido Socialista vivia com o espectro do PASOK no horizonte. A coligação parlamentar de esquerda salvou Costa, salvou os socialistas e evitou uma radicalização da sociedade portuguesa. O negócio foi de tal maneira rentável que, a três meses das eleições, o PS ainda aspira a uma maioria absoluta.

Bloco de Esquerda e Partido Comunista. O BE foi aquele que terá perdido mais com a ousadia de Costa fazer um governo apoiado nas esquerdas.  Se os socialistas suportassem, mesmo que por abstenção, um governo PSD/CDS, o BE iria buscar uma boa fatia dos eleitores socialistas. Seja como for, o BE continua com boas expectativas eleitorais e aquilo que perdeu em possibilidade de crescimento ganhou em notoriedade e respeitabilidade políticas. O PCP corria riscos reais com o apoio ao governo. Veja-se o resultado das autárquicas. No entanto, agora que as eleições se aproximam, é possível que mantenha a representação e o saldo da aventura seja positivo. Ganhou uma imagem de moderação e mostrou que é parte da solução e não um mero partido de protesto. Não é pouco.

A direita parlamentar. Uma legislatura cheia de equívocos. Uma primeira fase, ainda com Passos Coelho à frente do PSD, marcada pelo ressentimento e o anúncio da catástrofe a cada momento. Levou bastante tempo para que a direita percebesse como funciona uma democracia liberal. Levou ainda mais tempo para que compreendesse que a solução governativa das esquerdas não era substancialmente diferente da sua. As novas lideranças de Rui Rio e Assunção Cristas mostraram-se erráticas, nunca descobrindo o caminho para construir uma alternativa sólida às esquerdas. O CDS ainda foi tentado por um encosto ao radicalismo de direita, mas os resultados foram maus. As sondagens não auguram nada de bom para ambos os partidos.

PAN. Esta é a segunda novidade da legislatura, mais obscura que a coligação das esquerdas. O PAN surfa diversas ondas presentes nas sociedades pós-modernas: a contestação da diferença entre animais humanos e não humanos, as preocupações ecológicas e o cansaço com os partidos tradicionais. Com um posicionamento ideológico esquivo, o PAN pode tornar-se, dentro de certo limites, um partido catch-all, que tanto pode ir buscar eleitores à direita como à esquerda e até aos nem uma coisa nem outra. Ainda sem anticorpos e com a visibilidade alcançada, o PAN prepara-se para um grande resultado.


[a minha crónica no Jornal Torrejano]

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