Partido Socialista.
Nunca, na história da democracia portuguesa, tinha havido um governo suportado
por toda a esquerda parlamentar. António Costa e os socialistas foram os
grandes beneficiários da inovação. António Costa tinha a vida política por um
fio. O Partido Socialista vivia com o espectro do PASOK no horizonte. A
coligação parlamentar de esquerda salvou Costa, salvou os socialistas e evitou
uma radicalização da sociedade portuguesa. O negócio foi de tal maneira rentável
que, a três meses das eleições, o PS ainda aspira a uma maioria absoluta.
Bloco de Esquerda e
Partido Comunista. O BE foi aquele que terá perdido mais com a ousadia de
Costa fazer um governo apoiado nas esquerdas.
Se os socialistas suportassem, mesmo que por abstenção, um governo
PSD/CDS, o BE iria buscar uma boa fatia dos eleitores socialistas. Seja como
for, o BE continua com boas expectativas eleitorais e aquilo que perdeu em
possibilidade de crescimento ganhou em notoriedade e respeitabilidade políticas.
O PCP corria riscos reais com o apoio ao governo. Veja-se o resultado das
autárquicas. No entanto, agora que as eleições se aproximam, é possível que
mantenha a representação e o saldo da aventura seja positivo. Ganhou uma imagem
de moderação e mostrou que é parte da solução e não um mero partido de
protesto. Não é pouco.
A direita parlamentar.
Uma legislatura cheia de equívocos. Uma primeira fase, ainda com Passos Coelho
à frente do PSD, marcada pelo ressentimento e o anúncio da catástrofe a cada
momento. Levou bastante tempo para que a direita percebesse como funciona uma
democracia liberal. Levou ainda mais tempo para que compreendesse que a solução
governativa das esquerdas não era substancialmente diferente da sua. As novas
lideranças de Rui Rio e Assunção Cristas mostraram-se erráticas, nunca
descobrindo o caminho para construir uma alternativa sólida às esquerdas. O CDS
ainda foi tentado por um encosto ao radicalismo de direita, mas os resultados
foram maus. As sondagens não auguram nada de bom para ambos os partidos.
PAN. Esta é a segunda
novidade da legislatura, mais obscura que a coligação das esquerdas. O PAN
surfa diversas ondas presentes nas sociedades pós-modernas: a contestação da
diferença entre animais humanos e não humanos, as preocupações ecológicas e o
cansaço com os partidos tradicionais. Com um posicionamento ideológico esquivo,
o PAN pode tornar-se, dentro de certo limites, um partido catch-all, que tanto pode ir buscar eleitores à direita como à
esquerda e até aos nem uma coisa nem outra. Ainda sem anticorpos e com a
visibilidade alcançada, o PAN prepara-se para um grande resultado.
[a minha crónica no Jornal Torrejano]
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