sexta-feira, 5 de julho de 2019

Bloco de Esquerda, Rui Rio, União Europeia e Igreja Católica


O BLOCO DE ESQUERDA E OS DEPUTADOS. Parece haver divergências entre a distrital de Santarém e a direcção nacional sobre quem deve encabeçar a lista de candidatos pelo distrito às eleições legislativas. Este caso e também o do Porto, onde existe contestação às opções da direcção nacional, mostram que o BE está cada vez mais integrado no espírito do sistema partidário português. A proximidade do poder gera competição pelos lugares elegíveis e as direcções centrais dos partidos preocupam-se em assegurar fidelidades, uma forma de ter um exército coeso e evitar ruído. Todas estas coisas, porém, têm um preço. Para o BE é o da banalização, o ser visto como um partido igual aos outros.

AS OPÇÕES DE RUI RIO. O líder do PSD surpreendeu o establishment político com a escolha dos primeiras cabeças de listas para as eleições de Outubro. Os apoiantes de Rio verão nas escolhas uma excelente ideia para renovar o partido. Outros sublinharão nessas escolhas a estratégia para eliminar os críticos da direcção. Na verdade, tudo isso é irrelevante. O que tem relevo é, a confirmar-se o rumor, o facto de Rui Rio não encabeçar nenhuma lista de candidatos. Por uma questão simbólica e de tributo à democracia representativa, um candidato a primeiro-ministro deve encabeçar uma das listas colocadas à votação.

UNIÃO EUROPEIA. Há dias, Emmanuel Macron disse, a propósito do preenchimento dos lugares de topo da União Europeia, que os líderes europeus deram uma péssima imagem daquela. Em todos os projectos políticos há uma dose de utopia. Esta tem a função positiva de fornecer um horizonte. Tem, porém, uma dimensão negativa: a de querer forçar a realidade. As actuais dificuldades parecem mostrar que se passou a ténue fronteira onde a utopia europeia é positiva e se entrou num não lugar onde, por negação da realidade, a vida é impossível.

A QUEDA DO CATOLICISMO. Um estudo sobre a paisagem religiosa da grande Lisboa, coordenado por Alfredo Teixeira, da Universidade Católica, tem um conjunto de dados que vale a pena prestar atenção. Nesta área do país, apenas 55% das pessoas se dizem católicas, mas uma grande parte destas são não praticantes e muitas contestam as orientações da Igreja. Por outro lado, 35% dos inquiridos dizem-se crentes sem religião (13,1%), ateus (10%), agnósticos (6,9%) ou indiferentes (4,9%). O dado mais importante a realçar é a grande erosão sofrida pela Igreja Católica no seu poder para moldar consciências e atrair as pessoas para os seus valores. Em poucas décadas, a principal fonte de formação de valores morais da sociedade portuguesa parece ter-se esgotado.

[A minha crónica no Jornal Torrejano]

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