Salvador Dali, Imagen paranoica astral, 1934 |
É verdade que a cultura ocidental tem uma certa propensão para apocalipses. Está no ADN que herdou da costela judaico-cristã. Até há poucas décadas vivia-se com o temor do apocalipse nuclear. Esse adormeceu e foi substituído por um novo medo apocalíptico, o do aquecimento global. Há, no entanto, perante estas duas ameaças apocalípticas uma diferença assinalável. Toda a gente, depois de Hiroxima e Nagasaki, tinha consciência das consequências de uma guerra nuclear. Isso moderou as potências inimigas e racionalizou os comportamentos dos agentes políticos, que se deixaram guiar pela virtude da prudência.
No caso do aquecimento global estamos muito longe de ter uma consciência generalizada dos perigos que enfrentamos, o que dá uma grande margem para a irracionalidade política. Elegem-se políticos que negam o papel humano (a partir da Revolução Industrial) nas alterações climáticas. O pior é que parece que o assunto é mesmo sério (ver aqui e também aqui) e que a humanidade, guiada por gente imprudente, parece mesmo querer fazer a experiência de um apocalipse. O medo provocado pela espectacularidade dos bombardeamentos atómicos no Japão gerou a prudência. A falta de espectacularidade dramática das alterações climáticas retira a estas o poder retórico necessário para conduzir os homens à prudência. Pode ser que um dia se tenha consciência plena do perigo em que se vive, mas que seja já demasiado tarde.
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