domingo, 4 de agosto de 2019

A noite

Jacques Henri Lartigue, Renée Ciboure, 1930
Acossada, encostava-se à parede. A palma da mão sentia a frescura e o ouvido tentava captar alguma mensagem que o mundo, se é que existia um mundo para além daquele quarto, lhe enviasse. Nos olhos, a expectativa desenhava um terreno pantanoso onde medo e esperança se confundiam. Ficava assim durante muito tempo, sem se mexer, a respiração quase suspensa. A certa altura ouvia o eco do coração dentro da parede. Conforme ia crescendo, ela acalmava-se. Os olhos mediam o espaço e o pântano desaparecia, por milagre. Não esperava nada, mas também o medo a abandonara. Nesse momento, com passos firmes, dirigia-se para a cama, deitava-se e adormecia de imediato. A manhã chegara.

2 comentários:

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.