Virginia Lasheras, ABC, 1979 |
Um candeeiro de iluminação pública ergue-se da terra, rodeado por uma
grade de madeira, uma espécie de canteiro onde crescem uns arbustos, agora
crestados pelo frio denso e persistente do Inverno. Nele brilha, contra a
claridade funerária do dia, uma luz mortiça. Ter-se-ão esquecido, chegada a
manhã, de apagar a iluminação eléctrica. Talvez haja outra razão imponderável.
A alguns passos do candeeiro, um pequeno monte, coberto de neve, suporta um
velho plátano, cujos ramos despidos mais parecem raízes hirtas suspensas nos
ares, em contraponto com a claridade frouxa que se desprende do céu. A larga e
comprida álea central do parque está, também ela, coberta de neve, como estão
os arbustos e os pequenos montes rochosos, deixados ali para criar uma imagem de
natureza agreste. Vistos de longes, os renques de árvores fazem lembrar grandes
cortinas escuras, plantadas para proteger a intimidade do que se passa naquele
lugar. Mais atrás erguem-se os prédios da cidade, altos arranha-céus, envoltos
em betão e sombra. Os anúncios luminosos lutam contra a obscuridade geral, na
ânsia de transmitir uma mensagem, de desencadear um desejo, de penetrar no
coração dos homens. Num banco, uma figura humana, talvez um mendigo, parece uma
estátua. Imóvel e indiferente aos ligeiros flocos de neve que caem lentamente,
vacilantes se tocados pela brisa. Um casal, ainda apaixonado, atravessa o
parque de mão dada. Riem-se. Talvez façam projectos ou apenas se entreguem à
ilusão do amor. Sobre tudo isso, um céu de chumbo, aqui e ali atravessado pela
difusa luz do Sol. O dia, coagulado, parece ter suspendido o tempo.
Muito bom.
ResponderEliminarUm abraço
Muito obrigado.
EliminarAbraço