PÔR O REGIME À PROVA.
Na greve dos motoristas de matérias perigosas coincidiram duas vertentes que,
para os próprios interessados, não deveriam ter coincidido. A luta laboral por
reivindicações que merecerão respeito e um desafio às instituições políticas e
ao regime. Havia quem – e não estou a falar dos motoristas – visse esta greve
como uma possibilidade para pôr em causa o regime actual. Esperava-se que o caos
se instalasse nos combustíveis, mas também no abastecimento de géneros de
primeira necessidade e na saúde. Isto permitiria derrotar o governo apoiado na
esquerda e, ao mesmo tempo, preparar o terreno para a emergência de movimentos inimigos
da democracia liberal.
DEFESA DO REGIME.
As duas principais forças que defenderam o regime foram o governo e o Partido
Comunista. É evidente que tanto António Costa como o PCP têm interesses
próprios a defender. Eleitorais, o primeiro, sindicais, o segundo. No entanto,
na acção de ambos houve uma preocupação específica com a defesa do regime. O
governo assegurou que, apesar da greve, a vida dos portugueses decorresse
dentro da normalidade, evitando a emergência de movimentos sociais desestabilizadores.
Através do sindicato afecto à CGTP, o PCP mostrou que oferece uma fiabilidade
negocial e um respeito institucional que vão muito para além das emoções do
momento. Não esquecer, contudo, que esta defesa do regime esteve sempre
escorada no Presidente da República.
A FALTA DE
COMPARÊNCIA. Os outros partidos parlamentares, perante a situação grave que
se poderia viver, primaram pela ausência. PSD e CDS estiveram ausentes porque
estão fora do governo. Se ocupassem o poder, perante a mesma situação, teriam
um comportamento idêntico ao dos socialistas. Eram dispensáveis, porém, a
disponibilidade do CDS para alterar a lei da greve e os tweets de Rui Rio na 25.ª hora. O Bloco de Esquerda esteve ausente
porque a sua influência sindical é nula.
PROBLEMAS PENDENTES.
As condições de trabalho dos motoristas e de milhões de trabalhadores estão
muito longe de serem satisfatórias. A contínua genuflexão governamental perante
os interesses patronais pode ser uma fonte de problemas no futuro. Uma segunda questão
está na vulnerabilidade política do país perante certos sectores profissionais.
A vida social não pode depender continuamente de requisições civis, uma espécie
de declaração de estado de emergência. Um terceiro problema relaciona-se com o
sindicalismo institucional e o desafio de sindicatos desalinhados e pouco
comprometidos com a democracia. A UGT e, especialmente, a CGTP têm um desafio
pela frente, que também é o da democracia liberal.
Subscrevo todos os pontos.
ResponderEliminarUm abraço
Abraço.
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