Manuel Quejido, Delirio de los continentes o la razón, 1974 |
Estranho
destino o da razão no Ocidente. Na Antiguidade clássica, ela dá os primeiros
passos para se emancipar do mito e das descrições imaginárias do mundo. Na Idade
Média, todavia, tornou-se um instrumento da Teologia, um poder de
reconhecimento, no mundo natural, das verdades reveladas. Com a Modernidade, na
versão cartesiana, transforma-se em fundamento último e decisivo da verdade. Em
pleno Século das Luzes, com o kantismo, é o tribunal a cujo julgamento nada,
nem o poder nem a religião, se poderia furtar. No século XIX e XX, com
Nietzsche, Marx e Freud, a razão retorna à condição de instrumento não da
verdade revelada, mas da suspeita sobre a falsificação que cobria o mundo, o
que incluiria a suspeita sobre a própria razão. No século XXI, combinando um
simulacro da razão crítica iluminista e uma hipertrofia da razão suspeitosa, chegámos
ao tempo da razão delirante. É essa razão que está na base das teorias de
conspiração e de todos os delírios que pululam nas redes sociais, os quais conseguiram
inclusive fazer eleger uma senadora nos EUA, simpatizante de uma seita fantasiosa
que responde pela sigla QAnon. É essa razão delirante que alimenta políticos clownescos,
crenças inverosímeis, o desprezo e o ódio à ciência e um ressentimento sem fim.
Muito interessante.
ResponderEliminarAbraço
Muito obrigado.
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