Com a eleição de dois deputados nos Açores e uma votação na casa dos 5%, o Chega mostra-se como uma força política em consolidação. Tem uma particularidade que o torna em fenómeno único na democracia portuguesa. É o primeiro partido político a crescer afirmando-se contra o sistema político que foi traçado, através de um consenso tácito, pelo PS, PSD, PCP e CDS. O único partido que, além destes, conseguiu encontrar lugar consolidado no sistema partidário foi o Bloco de Esquerda. Note-se, porém, que esse lugar nasceu não porque o Bloco fosse anti-sistema, mas porque se converteu a ele.
A ascensão do Chega é preocupante para quem julga que as democracias liberais, tal como estão concebidas – a nossa e as da generalidade dos países europeu –, são os sistemas políticos mais razoáveis e aqueles que comportam menos riscos para os cidadãos. No entanto, as forças políticas tradicionais parecem incapazes de lidar com a direita radical. Em Portugal, o centro-direita olha com benevolência e paternalismo para o fenómeno, o centro-esquerda ignora-o, parece convir-lhe tacticamente, e a esquerda lançou mão do arsenal retórico antifascista e anti-racista.
Para além da questão, em disputa, da categorização do Chega ao nível da Ciência Política, o problema mais difícil de enfrentar é o da eficácia política da retórica antifascista e anti-racista. Embora Portugal não seja o Brasil nem os EUA, pode aprender alguma coisa com o que aí se passou. Combater os movimentos populistas da direita radical com o arsenal retórico do antifascismo e do anti-racismo parece ter um efeito contrário ao pretendido. A tentativa de deslegitimação enquadrando esses partidos e movimentos nos quadros mentais das direitas radicais e extremas-direitas reforçou candidatos inverosímeis e fez que uma parte do eleitorado lhes abrisse os braços e os protegesse, dando-lhes força e, mesmo, o poder.
Se os defensores da democracia liberal querem, de facto, limitar drasticamente o fenómeno populista, o caminho mais sensato será perguntar por que razão parte significativa do eleitorado se desinteressou da democracia e por que está a voltar agora à política de mãos dadas com este tipo de forças. Que aspectos da vida política democrática estão a gerar descontentamento na população? Que tipo de comportamentos dos agentes políticos tradicionais dão azo à demagogia populista? Isto significaria que as forças políticas tradicionais deveriam confrontar-se com as suas práticas e regenerarem-se a si mesmas. O que temo, porém, é que ninguém ache que exista alguma a regenerar em si e que um dia se acorde com um pesadelo eleitoral.
Subscrevo inteiramente.
ResponderEliminarAbraço
Abraço
EliminarPorque motivo uma parte da população se desinteressou da democracia ?
ResponderEliminarQuando é que toda a população se interessou pela democracia? Talvez no tempo de Salazar e Caetano,eu fui para a Guerra Colonial e no barco toda a gente discutia,alegremente, política?
Em que Mundo andais? Se vos queixais do presente tendes saudades do passado ou ansiedade pelo futuro.
Talvez haja uma grande diferença entre os 83,5% de participantes nas primeiras legislativas e os 48,6% das últimas.
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