quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

EUA, uma ferida narcísica

Frank Frazetta, Encabezamiento para el correo del lector de Famous Monsters of Filmland

O narcisismo norte-americano, que leva muitas vezes uma das mais velhas democracias do mundo a actos inaceitáveis, sofreu ontem um rude golpe com as imagens da invasão do Capitólio para sabotar a nomeação de um Presidente legitimamente eleito. Os EUA vangloriavam-se, com alguma razão, de serem os defensores do mundo livre e do seu governo estar sujeito às regras da democracia e do Estado de direito. Ontem, porém, uma multidão inflamada por um presidente derrotado, mas incapaz de assumir a derrota, transformou os EUA, perante todo o mundo, numa autêntica república das bananas. Nenhum respeito pela democracia, pela lei e pela ordem. Foi nisto que deu a retórica de fazer a América grande de novo. Humilhá-la pura e simplesmente.

Os Estados Unidos sempre se supuserem estar no centro do mundo democrático. Ontem, porém, perceberam que essa sua posição é muito menos sólida do que os americanos supunham. Estiveram a milímetros de se tornarem numa autocracia, submetidos ao arbítrio de um déspota. A ferida narcísica que ontem se abriu talvez não arrede os EUA do centro do mundo democrático. No entanto, ela vai sangrar e, espera-se, que conduza aos que são verdadeiros democratas – tanto no campo democrata como no republicano – a uma profunda reflexão sobre a fragilidade não apenas das instituições, mas da própria democracia. Ontem os EUA foram confrontados com a realidade, com a sua realidade. Veremos se têm capacidade de não fechar os olhos e lidar com o monstro que os habita.

2 comentários:

  1. No melhor e no pior os EUA quase que se equilibram. Preocupante...

    Um abraço

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