Esteban Vicente, Goyescas, 1983 |
Uma cortina de
tule desce do céu sobre a terra e vela suavemente a montanha e a floresta. Nela
dançam mil tonalidades de azul, como se a paisagem fosse uma enorme aguarela
onde se combinam o índigo, o anil, o cobalto, a turquesa, azuis marinhos ou da Prússia,
mil outros matizes, ora mais suaves, ora mais carregados. Os olhos, perplexos
da harmonia em azul, levam tempo a adaptar-se ao inóspito da paisagem.
Lentamente, apercebem-se da massa rochosa da montanha e descobrem sobre as suas
encostas e, no planalto em que se desdobra, a floresta, com as suas grandes
árvores, cujas folhas, verdes em dias de sol, se confundem na ambiência que a
tudo cobre. Na terra revestida de neve refulgente, pequenas poças de água e
gelo cintilam. Um lençol imaculado na sua brancura funde-se no azul que desce
dos céus. Restos de arbustos secos erguem-se aqui e ali, enegrecidos pelo frio
e pela morte. No centro da clareira, uma cabana com paredes de madeira, um
telhado de colmo de duas águas e um alpendre, tudo coberto por uma espessa
camada de neve. De uma das janelas sai uma luz que anuncia o fogo a arder na
lareira. Vê-se o arfar das labaredas, a metamorfose das cores, o vermelho, o
laranja e logo o amarelo, para retornar tudo ao princípio, numa dança que que
traz à memória o fluxo eterno, o movimento inconstante do ser, a esperança de
que a vida não tenha fim. Vindo da floresta, um corvo pousa na chaminé. O preto
que o cobre ilumina-se no contaste com o branco da neve. Na cabana, alguém chega
à janela. Fica parado, contempla com demora o horizonte, depois volta-se e
desaparece. Os azuis fundem-se lentamente até que tudo se torna negro e a noite
acrescente paz à solidão.
Lendo e fruindo. Muito bom.
ResponderEliminarUm abraço
Muito obrigado.
EliminarAbraço