Gustavo Torner, Galicia, 1957 |
De
súbito, o silêncio tomou conta do bosque. O vento suspendeu a corrida infinita
que o anima, os pássaros calaram-se escondidos nas ramagens das grandes árvores,
os rumores dissolveram-se no húmus da terra negra. A paisagem era então uma
enorme tela pintada de verde e silêncio, cortada pela antracite de rochas
abauladas, que ao erguerem-se do chão, desenham esferas cobertas, aqui e ali, por
um musgo ancestral. Entre o arvoredo há caminhos de terra batida, onde as
folhas mortas jazem à espera que o vento as sopre e as arraste para as pequenas
clareiras, onde ao adormecer trarão nova vida à terra. Ao longe, uma mulher
caminha solitária. Desloca-se como se não quisesse quebrar o sortilégio e
acordar a natureza sonâmbula que a envolve. Os pés poisam com cuidado, e quando
ergue a máquina fotográfica e dispara, fá-lo como se fosse imponderável e das
suas mãos nenhum ruído pudesse vir perturbar essa hora em que o mundo se
recolhe dentro de si. No céu azul, algumas nuvens lembram antigas caravelas e
navegam silentes, uma armada em busca das grandes aventuras que o prometido
Oriente lhe trará. A mulher sobe uma escada de pedra. O corpo ergue-se de
degrau em degrau. Por vezes, pára. Põem as mãos sobre os olhos e contempla o
sossego que se expande até ao horizonte. Respira fundo, e recomeça a subida.
Espera-a, ainda longe, um marco geodésico e dali há-de fazer as melhores
fotografias, aquelas que esperam o seu talento para que venham à vida. O sol
cobre-se nas nuvens que demandam as Índias e a mulher é tomada por uma pressa
incompreensível. Um pé num degrau, logo outro no seguinte, como se uma força
irresistível a impelisse ou um compromisso inadiável a esperasse. Sobe,
rapidamente e do movimento do seu corpo solta-se uma pequena aragem. Uma sombra
toca os ramos das árvores. O vento desaba da montanha, os cabelos da mulher
eriçam-se, as saias enfunadas deixam ver as pernas, enquanto o canto dos
pássaros cobre o verde do bosque com uma música de água e luz.
Muito interessante.
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Obrigado.
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