A cançoneta Sete Saias, gravada em 1960, é um
dos maiores êxitos de Artur Ribeiro. O poema é aparentemente despretensioso e inócuo.
No entanto, ele não deixa de ser um belo retrato da alma pátria da altura, em que o
professor Salazar pastoreava a nação. Uma temática ruralista e moralizante
ainda incendiava o gosto musical dos portugueses. A canção pode ser entendida
quase como de intervenção, não no sentido a que posteriormente se deu a esse
epíteto, mas como qualificação da sua pretensão pedagógica. O que está em jogo
é saber lidar com Eros, esse deus travesso, libidinoso e inquietante. Nada de
saias com grandes rodas, nada de saias curta, o mais que podem subir, em 1960,
é um palmo acima do pé, não vá o Zé ficar com ideias. Puro influxo catequético
do Estado Novo, numa paisagem que dava os primeiros e tímidos passos na sua dissolução.
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