Robert Ryman, Regis, 1977 |
Imóveis, as
águas do rio repousam da sua caminhada para a foz. Esquecem a nascente e o
caminho que fizeram. Retemperam as forças para o que falta. Da sua imobilidade
nascem reflexos de nove ciprestes que se erguem na margem. Um terá secado. Uma
ilusão, leva o espectador a pensar na existência de um duplo renque daquelas
árvores, o que se alteia em direcção aos céus e o outro que se abisma nas águas
em direcção ao centro da terra. Estranha linha divisória, habitada por segredos
que ninguém desvenda. O horizonte está coberto por uma névoa de onde nasce uma
luz cansada pela esforço de romper o véu. Não se vêem animais, nem homens,
apenas a paisagem despida na sua geometria, o encanto das águas pousadas sobre
a quietude da terra, os ciprestes alinhados como uma coluna militar, o céu perdido
numa mancha sonâmbula de cinza. Sobre tudo isto cai o silêncio e o visitante
hesita em entrar nesse mundo, não vá acordar os elementos, raptá-los do sossego
em que adormeceram e entregá-los à mácula do alvoroço. Do céu cai uma gota de
água, depois outra e outra, no rio nascem círculos concêntricos, que ondulam até
se pacificarem e fundirem no magma líquido, restabelecendo-se a ordem primitiva.
De súbito, um pássaro poisa no cipreste morto. Canta. Um barco movido a remos sulca
a água. O barqueiro move os braços e as pernas, enquanto a pequena embarcação desliza,
o murmúrio das águas se fecha sobre si mesmo e a paz se restabelece no momento
em que o pássaro levanta voo e o visitante desaparece tragado pela neblina.
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