sexta-feira, 21 de julho de 2023

Fora de controlo


Imagine-se um qualquer fenómeno adictivo. Por exemplo, o consumo de drogas. O que acontece, aos que ficam presos na adicção, é que a princípio pensavam estar perante meras experiências e que, quando quisessem, pôr-lhes-iam fim. A verdade, porém, é que a partir de certa altura é a droga que controla a vontade da pessoa e não o contrário. Esta experiência da vida dos indivíduos encontra um paralelo na vida das comunidades. Existem certos fenómenos que parecem estar sob o controlo humano, mas que a partir de um certo momento ganham autonomia e, como uma adicção, acabam por subjugar esses mesmos seres humanos.

As alterações climáticas são um caso em que se vê a presença deste padrão. Por um lado, parece cada vez mais claro que essas alterações induzidas pela actividade humana estão fora de controlo humano. O clima sempre esteve fora do domínio dos homens, mas os efeitos da intervenção humana tornaram essa situação ainda mais problemática. Por outro lado, os comportamentos humanos que induzem às alterações climáticas entraram também na situação de adicção. A humanidade não consegue ter mão no seu desejo insaciável de consumo. Não há político que, para ganhar eleições, não prometa maior crescimento económico e a possibilidade de aumentar o consumo.

Um outro fenómeno que começa a estar fora de controlo é o crescimento da extrema-direita e da direita radical. Começou como um voto de protesto, uma espécie de brincadeira para assustar os partidos institucionais, mas os eleitores, muito cedo ficaram fascinados por aquilo que há de mais irracional e bárbaro nesses programas. A opção por políticas perigosas está, neste momento, a passar a fronteira que separa uma opção de uma adicção. Partes substanciais dos eleitorados das democracias ocidentais deixam-se fascinar por retóricas simplistas que escondem as piores tempestades. A continuar assim, e nada indica o contrário, não tarda e chegaremos ao momento em que o crescimento da extrema-direita estará fora de controlo.

As grandes catástrofes da história humana têm esta marca. Começam de modo insignificante, os acontecimentos parecem ser dirigidos por seres humanos, mas, a partir de certa altura, esses acontecimentos ganham autonomia e desabam sobre os homens do modo incontrolado, como se fossem um castigo pela sua insensatez. É o que parece estar a acontecer. Seja na questão climática, seja na questão política, os sinais são os piores, indicando que, até pelo efeito da conjugação dos dois fenómenos, o descontrolo da situação será total e que só podemos esperar o pior. 

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