James Ensor, Demons teasing me, 1895 |
Uma
das coisas mais caricatas que corre inflamada pelas bocas é a acusação de que
certo político só se interessa pelo poder. António Costa foi um dos acusados, aquando
da geringonça, agora é Pedro Sanchez, em Espanha, por não viabilizar um governo
do Partido Popular e estar a tentar encontrar uma solução política para a
governação. Esta acusação é tão estúpida como acusar os mamíferos recém-nascidos
de mamarem. Na verdade, não passa de uma estratégia patética para alcançar o
poder de quem não tem as condições necessárias – por exemplo, o apoio maioritário no
parlamento – para o ocupar. Os políticos, digam-no ou não, movem-se sempre pelo
poder, só este lhes dá sentido. Um político que renuncie ao poder deixa de ser
um político. Veja-se o caso de António Guterres. Sem o poder ou sem a
expectativa de o vir a alcançar, um político vale zero, por mais princípios que
proclame ou por mais loas morais que entoe ou lhe entoem. Isto significa que vale tudo
em política? Significa isso mesmo, como a história o mostra. Vale tudo numa
democracia e num estado de direito para alcançar o poder? Sim, desde que esteja
de acordo com a constituição e as regras do Estado de direito, o que significa
já uma enorme limitação das manobras possíveis para alcançar e manter o poder.
Quem quer a glória dos altares vai para o convento, não entra na política. Quem
quer dar lições de moral escreve tratados de ética e não entra na política. A
única coisa que, verdadeiramente, motiva um político é o poder, pois sem ele
nenhuma ideia, magnífica que seja, tem realização. Isto vale tanto para os
políticos de esquerda como de direita, tanto para os do centro como para os dos
extremos, tanto para os democráticos como para os autoritários.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.