terça-feira, 25 de julho de 2023

O poder e o político

James Ensor, Demons teasing me, 1895
 
Uma das coisas mais caricatas que corre inflamada pelas bocas é a acusação de que certo político só se interessa pelo poder. António Costa foi um dos acusados, aquando da geringonça, agora é Pedro Sanchez, em Espanha, por não viabilizar um governo do Partido Popular e estar a tentar encontrar uma solução política para a governação. Esta acusação é tão estúpida como acusar os mamíferos recém-nascidos de mamarem. Na verdade, não passa de uma estratégia patética para alcançar o poder de quem não tem as condições necessárias – por exemplo, o apoio maioritário no parlamento – para o ocupar. Os políticos, digam-no ou não, movem-se sempre pelo poder, só este lhes dá sentido. Um político que renuncie ao poder deixa de ser um político. Veja-se o caso de António Guterres. Sem o poder ou sem a expectativa de o vir a alcançar, um político vale zero, por mais princípios que proclame ou por mais loas morais que entoe ou lhe entoem. Isto significa que vale tudo em política? Significa isso mesmo, como a história o mostra. Vale tudo numa democracia e num estado de direito para alcançar o poder? Sim, desde que esteja de acordo com a constituição e as regras do Estado de direito, o que significa já uma enorme limitação das manobras possíveis para alcançar e manter o poder. Quem quer a glória dos altares vai para o convento, não entra na política. Quem quer dar lições de moral escreve tratados de ética e não entra na política. A única coisa que, verdadeiramente, motiva um político é o poder, pois sem ele nenhuma ideia, magnífica que seja, tem realização. Isto vale tanto para os políticos de esquerda como de direita, tanto para os do centro como para os dos extremos, tanto para os democráticos como para os autoritários. 

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