quinta-feira, 26 de julho de 2012

Verão, poupem-me

Edward Hopper - Summer Interior (1909)

Como percebo o ódio à Europa do Sul. Talvez esteja na primeira linha desse ódio ou desprezo, talvez seja melhor dizer desespero. Cheguei há pouco a Torres Novas vindo de um sítio mais fresco e tudo começa a derreter-se. Quero ler e escrever, mas o calor adormece-me os neurónios e executa, sem patíbulo ou forca, a pobre vontade, já de si pouco dada a grandes investimentos (não, não é uma vontade liberal, apenas no desperdício usa de liberalidade). A casa aqueceu nestes dias de ausência. Quem lhe deu ordem para tanta autonomia? Cada ano que passa parece pior ou sou eu que estou mais sensível. Como pode alguém trabalhar em sítios como este? Ainda por cima o ar condicionado dá-me cabo da garganta. Os alemães se vivessem cá seriam mais pobres e devedores do que nós. O melhor seria pôr a senhora Merkell a mourejar por aqui. As dúvidas passavam-lhe. Falam-me do microclima de Torres Novas. Quero lá saber do microclima, podiam muito bem colhê-lo e exportá-lo para a Finlândia. Conto, com o único neurónio acordado, as horas para me pôr ao fresco.

6 comentários:

  1. Nem me atrevo a dizer boa tarde.

    Concordo com o desabafo. Também eu me desdobro na inércia e, o que é pior, na insónia nocturna deste calor obsceno.
    Por isso anseio pelo Verão -nórdico- do meu contentamento, dos dias longos e planos e, sobretudo, frescos.
    Se me permite a deriva: Os alemães se cá vivessem seriam mais pobres do que nós, mas antes acabavam com a cerveja e engoliam a arrogância.
    Já agora, tenha uma boa noite.

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    1. Muito obrigado, JRD. O calor, de facto, não é a minha especialidade.

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  2. ...E Lisboa a 39º, mais de quarenta no centro, sai-se às seis da tarde na Baixa e os prédios cospem chispas ardentes, as ruas queimam, o trânsito é um incêndio, os turistas passam aos magotes, inflamadas lagostas à procura de uma esplanada, tórrida, onde beber uma cerveja...as gentes arrastam-se do trabalho para casa, não se respira ou engole-se um ar quente e seco, terrível, que mata. Maldito Verão do Sul, concordo...a senhora Merkel deveria vir ver como é que é, de facto. Chega-se a casa e nem s epode abrir janelas, tal o calor que invade as salas, os quartos, na cozinha nem se pode estar cinco minutos...Detesto o Verão. Para mim, só pertinho do mare, mesmo assim...Em Espanha há ainda quem faça a sesta, mas isso, enfim, é coisa de preguiçosos...dizem os lá de cima...

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    1. Acho que o governo do Rajoy quer acabar com a sesta. A idiotice política ainda é pior que a outra. Quanto ao junto do mar, tudo depende da temperatura ambiente.

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  3. É verdade, o calor estimula a indolência. Mas não é forçoso que se fique dentro de casa a torrar. Acabo de chegar de um sítio agradabilíssimo (talvez mais logo fale nisso lá no UJM) bem perto daí: o Parque, à beira Tejo, de Vila Nova da Barquinha, agora com esculturas. E depois uns caracóis numa esplanadazinha em frente do Castelo de Almourol. Há, por aí, lugares com um clima bem diferente das ardências de Torres Novas que, por estas alturas, são boas para os figos (não para os neurónios, de facto)

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    1. Conheço bem o parque e VN da Barquinha, bem como toda essa zona. Aliás, quando tenho cá as netas, é ao parque da Barquinha que as levo. Mas mesmo aí há demasiado calor. Quanto aos caracóis... enfim, não partilho o entusiasmo. Dantes gostava, mas julgo que o organismo decidiu deixar de gostar, sem que eu pudesse fazer alguma coisa.

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