Jacinta Gil Roncalés - La carcel del pensamiento (1998)
Dar-se conta de que as coisas mais fundamentais da realidade estão fora da jurisdição do pensamento e da vontade constitui para numerosas culturas o início da maturidade. É esta consciência que incita a deixar crescer a confiança na realidade, que é a origem da alegria e da paz. (Raimon Panikkar (2012). Mystique plénitude de Vie. Paris: Éditions du Cerf, p. 41)
Quando no início do Timeu, de Platão, é narrado o episódio do encontro entre Sólon e sacerdotes egípcios, um destes, muito velho, diz: "Sólon, Sólon, vós, os Gregos, sois sempre crianças; um Grego não pode ser velho" (Tm 22 b). Esta ideia de uma imaturidade dos gregos, assinalada por um representante de uma tradição não ocidental, marca a natureza civilizacional do Ocidente. A imaturidade nasce, conforme se percebe na continuação da leitura do Timeu, da incapacidade de recordar as tradições mais antigas, aquelas que constituem o fundamento da actualidade. A questão da maturidade, porém, não residirá num culto do passado pelo passado, mas da consideração de uma sabedoria que se foi instituindo na longa experiência da humanidade e que os ocidentais julgaram por bem esquecer.
Como se desenvolveu, na história do mundo, a imaturidade ocidental? Ela cresceu na crença de que a realidade está dentro do poder do pensamento e da vontade humanos. Que o homem a pode conhecer segundo o seu pensamento e transformá-la conforme a sua vontade. Foi esta crença, iniciada na Grécia com a própria filosofia e continuada na Europa moderna com a preponderância da acção que, curiosamente, tornou possível a dominação que o Ocidente, durante alguns séculos, exerceu à escala mundial. Essa imaturidade manifesta-se na crença de que é real apenas aquilo que é pensável e aquilo que é fruto das acções voluntárias do homem. Isto produziu a mais desenvolvida civilização material de que há conhecimento, ao mesmo tempo que reduziu os ocidentais a puras crianças, dependentes dos brinquedos tecnológicos e da acumulação de dinheiro. Toda a vida espiritual do Ocidente, hoje em dia, se resume à tecnologia e às finanças.
Apesar do poderio do pensamento e da acção ocidentais, o facto de, como os gregos, eles não passarem de crianças tornou a civilização ocidental completamente incapaz de resistir à sua desagregação. Passo a passo, em silêncio, as velhas civilizações asiáticas - que até há pouco pareciam moribundas - pegaram nas armas ocidentais e trataram de derrotar o Ocidente a partir dos pressupostos que ele próprio, no exercício da sua imaturidade, tinha criado. A Europa é já hoje uma dolorosa irrelevância e os EUA - essa outra Europa do lado de lá do Atlântico - entraram num processo de decadência que não tem fim à vista. Ao reduzir tudo ao pensamento calculador e à acção voluntária (à filosofia, à ciência e à economia), os ocidentais tornaram-se impotentes para perceber a sabedoria que permitiu aos orientais tornarem-se, pouco a pouco, senhores do mundo.
Muito provavelmente será tarde para evitar o completo colapso do Ocidente. No entanto, a cada um de nós abre-se a possibilidade de sair da imaturidade pela meditação do destino que está a cair sobre nós. A menoridade não reside, como pensava Kant no célebre manifesto sobre o Iluminismo, numa razão (teórica e prática) não autónoma. É a própria crença na autonomia da razão que é o sinal da imaturidade ocidental. O que há de mais fundamental na realidade, como lembra Panikkar, está para além do domínio da razão. Há outras luzes que as luzes do Iluminismo não deixam ver.
Apesar do poderio do pensamento e da acção ocidentais, o facto de, como os gregos, eles não passarem de crianças tornou a civilização ocidental completamente incapaz de resistir à sua desagregação. Passo a passo, em silêncio, as velhas civilizações asiáticas - que até há pouco pareciam moribundas - pegaram nas armas ocidentais e trataram de derrotar o Ocidente a partir dos pressupostos que ele próprio, no exercício da sua imaturidade, tinha criado. A Europa é já hoje uma dolorosa irrelevância e os EUA - essa outra Europa do lado de lá do Atlântico - entraram num processo de decadência que não tem fim à vista. Ao reduzir tudo ao pensamento calculador e à acção voluntária (à filosofia, à ciência e à economia), os ocidentais tornaram-se impotentes para perceber a sabedoria que permitiu aos orientais tornarem-se, pouco a pouco, senhores do mundo.
Muito provavelmente será tarde para evitar o completo colapso do Ocidente. No entanto, a cada um de nós abre-se a possibilidade de sair da imaturidade pela meditação do destino que está a cair sobre nós. A menoridade não reside, como pensava Kant no célebre manifesto sobre o Iluminismo, numa razão (teórica e prática) não autónoma. É a própria crença na autonomia da razão que é o sinal da imaturidade ocidental. O que há de mais fundamental na realidade, como lembra Panikkar, está para além do domínio da razão. Há outras luzes que as luzes do Iluminismo não deixam ver.
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