A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Cada país tem o governo que
merece.
Joseph de Maistre (1811)
Na crónica da passada segunda-feira, no Público, o historiador Rui Tavares fazia uma leitura geral da perversão
das elites políticas em várias fases da vida nacional. Começa com o monarquia
liberal, no século XIX e inícios do XX, passa para a República de 1910 e
conclui com a República pós-25 de Abril. Nos três regimes aconteceu um fenómeno
semelhante. Na primeira fase, as elites políticas são compostas por pessoas bem
preparadas, geralmente sérias e politicamente consistentes. Depois, com a
evolução do regime, essa elite é substituída por gente cada vez mais
desqualificada e inconsistente.
O episódio Relvas é apenas um sintoma do grau de degradação política a
que se chegou. Se olharmos tanto para o governo como para a oposição, com muito
poucas excepções, o panorama é aterrador. Como é que permitimos que José
Sócrates ou Passos Coelhos, sem ter dado qualquer tipo de provas, tenham
chegado à chefia do governo? Como pode alguém como António José Seguro ter a
pretensão de vir a governar Portugal?
O problema que se coloca em Portugal desde o liberalismo é o da fragilidade
das instituições e o da sua impotência perante gente ambiciosa e, intelectual e
politicamente, desqualificada, perante os videirinhos que colonizam e
vampirizam a vida da comunidade. Qual a razão desta fraqueza. A resposta só
pode ser uma: a debilidade das instituições e a sua impotência perante quem as destrói
deve-se à fragilidade do próprio soberano.
Em regimes de soberania popular – e é curioso que na ditadura do
Estado Novo, onde a soberania popular foi suspensa, nunca se chegou a um tal
grau de degradação das elites políticas – as instituições dependem directamente
do juízo dos cidadãos. A degradação em que se vive foi uma opção nossa. Concebemos
a política à luz das paixões futebolísticas. Durante décadas, o importante foi
a vitória dos nossos. Fomos, enquanto povo, acríticos, complacentes e indiferentes
ao bem comum. Isso permitiu que ora o PS ora o PSD e CDS governassem, sem
grandes problemas de consciência ou escrúpulos. A clubite partidária
suportava-os. Foi assim que Portugal chegou onde está.
Enquanto comunidade, temos de tomar a decisão se vamos continuar a
avaliar a vida política à luz dos nossos fervores clubistas ou se, com a
situação dramática em que vivemos, aprendemos alguma coisa, aprendemos a ser
exigentes com aqueles que são eleitos, aprendemos a ser críticos, aprendemos a
desconfiar de quem, com o nosso voto, colocamos no poder. Fora isso, a
degradação não terá fim à vista. Cada
país tem o governo que merece.
O problema é que não há escolha! Aqueles que os Partidos elegem para nos proporem são maioritariamente figuritas insignificantes e depois...depois venha o diabo e escolha...o problema está no próprio sistema eleitoral completamente dominado pelos ditos partidos do arco...
ResponderEliminarTalvez o não haver escolha seja uma oportunidade. Talvez a escolha seja secundária e o importante resida na limitação drástica do poder dos escolhidos e o crescimento da cidadania activa e crítica do poder.
EliminarLi todo o artigo, substituindo, involuntariamente, a palavra degradação pela palavra desagregação, claro que um acto falhado destes não é inocente, na verdade a degradação que toleramos vai ser a catalisadora da desagregação que tememos.
ResponderEliminarCompletamente de acordo. Tudo se paga nesta vida.
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