quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Perversão governamental

René Magritte - El principio del placer (Retrato de Edward James) (1937)

Existe neste governo uma estranha forma de perversão. A psicanálise ensina que o crescimento é marcado pela substituição, na ordenação da vida, do princípio do prazer pelo princípio de realidade. Tornar-se adulto é adequar-se à realidade, abandonando o delírio que a busca de prazer implica. A perversão governamental reside em ter travestido o princípio de prazer em princípio de realidade. Quando toma as medidas que toma, o governo invoca o princípio de realidade, clama a necessidade de ajustamento ao real. A verdade, porém, é que estas medidas são tomadas porque dão prazer a quem as toma e não porque sejam adequadas à realidade (que elas próprias destroem). Mesmo que a realidade resista a essas medidas, e mostre que nem uma das previsões delirantes efectuadas estava certa, o prazer de humilhar um povo, o prazer de restabelecer velhas hierarquias, fala mais alto no coração dos governantes, acicatando-lhe o desejo. De certa maneira, aquilo que se passou ontem no discurso de Vítor Gaspar foi uma orgia e terá, por certo, provocado intensa fruição no campo governativo. Estamos no domínio da pura patologia.

2 comentários:

  1. Diz bem! Quem melhor para confirmar a patologia crónica dos governantes, do que a figura lúgubre, de olhar glacial e discurso sinistro do Nosferatu das Finanças?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Contudo, há uma coisa em que Vítor Gaspar é surpreendente. Ele é verdadeiramente o ministro político deste governo, a tentativa de coloração das medidas com o véu da igualdade, foi como que tirar um coelho da cartola. É inteligente e tem maleabilidade para se adaptar, não descurando os fins a que se propõe. Não é um pateta, como muita esquerda diz; é, como refere, um Nosferatu.

      Eliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.