Juan Miró - Paisaje catalán: el cazador (1923-24)
A questão catalã merece a máxima atenção por diversos motivos. O efeito destabilizador na Península Ibérica será imediato, mesmo que não se chegue a um outro episódio de guerra civil em Espanha, o que está longe de assegurado. Os efeitos em Portugal poderão ser devastadores e imprevisíveis. Há, contudo e para além da preocupação paroquial ao nível peninsular, uma outra perspectiva que merece atenção Uma hipotética independência da Catalunha - movida não apenas pelo sentimento independentista, mas também pelo egoísmo com que olha a sua contribuição para as outras regiões de Espanha - pode ter um efeito detonador noutros países. Tanto a Lombardia, em Itália, como a própria Baviera, na Alemanha, poderão encontrar nesse hipotético exemplo catalão um suplemento de alma para iniciarem processos idênticos, movidas por razões egoístas semelhantes. Isto para não falar na questão belga.
Durante décadas, de forma mais ou menos insidiosa, a União Europeia jogou - e continua a jogar - um jogo perigoso que visava - e visa - desgastar os velhos Estados-Nação. Nessa estratégia, o reforço dos poderes infra-estaduais teve um papel importante. Tudo parecia ir bem enquanto o dinheiro abundou, pois comprava-se a paz e a unidade política com os fundos europeus. Agora que o dinheiro escasseia, os egoísmos nacionais vêm ao de cima e encontram, subitamente, eco nos egoísmos regionais e autonómicos (entre nós na forma de opereta dirigida por AJ Jardim, mas também já sinalizada por LF Menezes no norte). A convicção de muitos federalistas da necessidade de corroer o Estado-Nação pode conduzir, num daqueles volte-face em que a História dos homens é pródiga, à proliferação de múltiplos Estados-Nação e à fissura de unidades políticas que, até há pouco, pareciam sólidas. Na verdade, nada disto é, do ponto de vista da História, uma novidade. Aliás, o fazer e refazer das unidades políticas e das comunidades soberanas é o comum da vida histórica da humanidade. Só o trauma de duas guerras mundiais poderá ter criado a ilusão de uma mapa-mundo político quase inamovível. Mas o facto das transformações do mapa serem o comum não quer dizer que sejam desejáveis e não contenham perigos a que, por um privilégio histórico, temos sido poupados.
A questão Catalã é antiga, só não ficou resolvida no século XVII porque Castela optou por conservar o seu domínio sobre a Catalunha e "deixar-nos sair" a nós.
ResponderEliminarÉ óbvio que a questão poderá constituir uma bola de neve dentro Espanha; Pais Basco, Astúrias, Comunidade Valenciana, Canárias e, quem sabe, Galiza e Baleares.
Não vejo que Castela possa estar em todas as frentes, nem sequer pôr as autonomias umas contra as outras.
Na Europa, para além das que nomeou, ainda temos a Escócia, a Flandres, a Padânia no seu todo. O Estado de Hamburgo, etc.
Na minha simples opinião, se estas cisões se verificarem, a Europa não morre, apenas muda o seu "mundo".
Nesta problemática, gosto de me inspirar no grande poeta Paul Elouard, quando diz que a palavra fronteira é uma palavra zarolha e o homem tem dois olhos para ver o mundo.
Um abraço
A história da Europa é feita de fronteiras fluidas, que variaram ao sabor de guerras de conquista, alianças e casamentos reais. Portanto, como a história não terminou...
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