A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
Foram publicados os rankings
nacionais dos exames de 6.º, 9.º, 11.º e 12.º anos. Acentuou-se o predomínio
das escolas privadas nos lugares cimeiros e o consequente recuo das escolas
públicas. Estes rankings dizem pouco,
se dizem alguma coisa, sobre a qualidade do trabalho levado a efeito numas e
noutras. São, contudo, um excelente retrato do país em que nos estamos a tornar
e das políticas públicas de educação.
O predomínio das escolas privadas vem confirmar a velha tese do
sociólogo Pierre Bourdieu sobre o papel do ensino na reprodução das
desigualdades. Os rankings mostram
não apenas essa profunda desigualdade social que mancha Portugal, como tornam
manifesto que esse desigualdade se está a reproduzir de forma cada vez mais
profunda. As elites sociais perceberam há muito a importância de uma boa
escolarização dos seus filhos e apostam muito nessa escolarização. O colégio
privado, fundamentalmente nas grandes cidades, é ao mesmo tempo o sinal de um
interesse parental pelo ensino e um emblema de distinção social, o lugar onde
crianças e jovens se irão relacionar com as crianças e jovens das famílias que
interessam. É o lugar onde as futuras alianças se começam, secreta e
inconscientemente, a construir. É um lugar de distinção e assim de exclusão.
Uma política pública deveria ter como finalidade manter a coesão da
comunidade, estabelecer laços sociais entre as diversas classes, proporcionar
uma crescente igualdade de oportunidades. O que acontece é que a política
pública de educação em Portugal tem feito exactamente o contrário. Tornou a
vida dos professores do ensino público um calvário burocrático, desviou-os da
sua missão educativa, ao mesmo tempo que permitiu uma cultura laxista por parte
dos alunos, tendo mesmo, muitas vezes, incentivado esse laxismo através de uma atitude
de facilidade, da pouca exigência e da falta de rigor. Se há alguma coisa que
os rankings deste ano tornam claro é
o pesado erro que foi a política educativa de Sócrates e de Lurdes Rodrigues,
cujas consequências se começam a tornar agora claras.
No desconcerto em que o país vive haverá pouca disposição para dar
atenção ao ensino e à escola pública. Contudo, não apenas a coesão social do
país como o seu desenvolvimento estão fundados nessa escola pública. Ou o país
e os governantes olham com muita atenção e rigor para o ensino público ou a sua
degradação será irremediável. As consequências dessa degradação não serão menos
devastadoras do que aquilo que se está a passar na economia. É isso que os rankings, sub-repticiamente, estão a
dizer.
Gostei da sua análise; apresenta uma leitura interessante dos "rankings", que até à data ainda não tinha lido em qualquer órgão de comunicação social.
ResponderEliminarO apoucamento do ensino público, que refere, bem como as suas tristes consequências são uma realidade, de facto. Estamos a regredir. É pena.
Muito obrigado. Temo mesmo que o apoucamento se torne uma prática irreversível dos governantes. Enfim...
EliminarÉ necessário que alguém denuncie a perversidade calculista com que os poderes, incluindo o fático, tratam este problema.
ResponderEliminarO meu Caro Amigo fê-lo de maneira exemplar.
bfs
Abraco
E o poder fático não é o de menor potência.
EliminarAbraço