A minha crónica semanal no Jornal Torrejano.
No momento em que Portugal é confrontado com um dos orçamentos de
estado mais destruidores da economia, da vida das pessoas, do sentimento de
equidade, A. J. Seguro decidiu entregar-se aos jogos florais. Para desviar a atenção,
aproveitando a vaga de populismo e de ódio à classe política, propõe a redução
dos deputados da nação. Medida que pouparia meia dúzia de euros, que alegraria
as caixas de comentários dos jornais on-line e as conversas nos táxis das
grandes cidades, mas que teria efeitos perversos para o país e a democracia.
O parlamento não é apenas o sítio onde se faz a lei. Com aquele
discurso mole ou inflamado, com a retórica e a aparente agressividade, está no
lugar da violência física. Se não houver parlamento onde as partes se
confrontem através do discurso, incluindo a violência verbal, nós temos a
violência das ruas, a violência da guerra civil, a violência dos ditadores e
dos perseguidores políticos. O parlamento, sublinho de novo, está no lugar da
violência política nas ruas.
Para que o parlamento cumpra essa sua função, contudo, é preciso que
as facções principais da comunidade estejam representadas. O truque floral de
A. J. Seguro tem apenas uma finalidade: acabar com a representação parlamentar
do CDS-PP, do BE e do PCP. Pretende entregar quase todo o parlamento ao pessoal
do PSD e do PS. Os partidos que levaram o país para a bancarrota terão agora
uma espécie de seguro de vida para continuarem, sem o controlo parlamentar dos
outros, as suas políticas que todos sabemos onde levaram.
Mas o principal problema nem sequer é esse. A medida fomentaria o
aparecimento de extremos, à direita e à esquerda, que fariam ouvir a voz da
rua, isto é, a violência, como aconteceu no final da Monarquia, na I República,
nas guerras civis do século XIX. São Marias
da Fonte, Patuleias e Formigas Brancas que o A. J. Seguro
quer?
Há muito por onde cortar na classe política, que não nos eleitos. A
lei deveria proibir que os eleitos levassem o pessoal do partido para as
instituições. Os servidores públicos de carreira deverão ser independentes e
servir o poder eleito, qualquer que seja, com lealdade e sob risco de expulsão do
serviço público. Só na gente dos partidos que abarrota o poder central,
regional e local, pouparíamos vários parlamentos. Depois seria a frugalidade
nos carros, nas despesas, nos prerrogativas
que os eleitos se julgam merecedores. Apenas a frugalidade nórdica. Isto seria
interessante, mas Seguro confunde o serviço à nação com os jogos florais de uma
associação recreativa. Para nossa desgraça, também ele terá um futuro à sua
frente.
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Em aditamento ao artigo pode-se ver com proveito o vídeo abaixo. A Suécia, um claro exemplo de frugalidade nórdica. Este vídeo deveria servir de reflexão ao destrambelhamento do PS - de Zorrinho a Assis - com a questão dos carros para o grupo parlamentar. Será que ainda não perceberam que as pessoas já não suportam mais os supostos direitos que os seus representantes se atribuem a si mesmos? É verdade que há muito ressentimento na vox populi, mas também é verdade que as elites políticas se acham acima do comum dos mortais e que, como tal, devem viver segundo as exigências de uma concepção do poder enquanto espectáculo. Esquecem-se que já ninguém quer ver a peça.
Uma crónica excelente que li com a "ansiedade nostálgica" de quem está longe.
ResponderEliminarAcho que Seguro quer segurar-se no seu próprio partido e planeia também uma "purga" se lhe derem tempo.
Quanto ao modelo sueco; na Dinamarca as semelhancas sao evidentes. "Isto fica mesmo do outro lado do mundo".
Acredite que eu nao acredito que este modelo de vida fosse possível na nossa terra, com o povo que somos, nao obstante conhecer muitos portugueses que já interiorizaram uma nova concepcao de vida.
Se me permite:
http://bonstemposhein-jrd.blogspot.dk/2010/07/dos-danes.html
Daqui, de um país onde há administradores e directores de empresas, cientistas e professores que vao para o trabalho de bicicleta, vai um abraco.
Eu também não acredito, mas julgo que este momento muito difícil que vivemos pode ajudar a dar um passo em direcção a essa mentalidade. Repare como a história dos carros do grupo parlamentar do PS correu mal ao Assis e ao Zorrinho. Eu sei que as agência pró-governamentais exploraram aquilo até mais não poder, mas as pessoas começam a perceber que há limites que devem ser impostos ao poder.
EliminarAbraço e obrigado pelo link "danês".