Egon Schiele - Levitazione (1915)
Aborrece-me esta inclinação de certas pessoas, no nosso quintal à beira-mar, para a levitação. Muita gente acha que o caminho do árduo trabalho e do esforço é coisa horrível e pesada. Não temos propensão para a matemática nem para a engenharia mecânica. Mas como pertencer à camada de baixo é aborrecido e entediante, uns portugueses - mais espertos que os outros - descobriram um método infalível de ascender no firmamento social da pátria, a levitação. Uma pessoa senta-se, fecha os olhos, descontrai o corpo e, por um milagre, suspende a lei da gravidade. Quanto mais sobe mais levita, e quanto mais levita menos a gravidade se lembra do levitador. O êxito da levitação é tão grande que proliferam instituições organizadas para a sua aprendizagem. Certos partidos políticos especializaram-se no assunto. Mal alguém se inscreve na congregação, sente-se de imediato mais leve, como se alguma coisa o desligasse já da terra, como se descobrisse a mentira da física newtoniana. Mas se o candidato for mais exigente, sempre pode acumular a inscrição partidária com um curso de uma universidade especializada em fenómenos paranormais. Por fim, poderá escolher um estágio no parlamento ou num ministério, o que lhe permitirá chegar - sempre em levitação - ao sétimo céu, aquele onde uma administração de peritos em levitação espera por ele. A vocação de Portugal? Ser um país de levitadores.
Nem mais. Para essas pessoas não há "gravidade(s)", está tudo bem, porque eles raramente caem.
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As lições de levitação são mesmo boas.
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