segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

A infantilização da política


Uma das características mais salientes, mas julgo que não muito sublinhada, nestes movimentos ligados ao populismo é o carácter infantil ou adolescente das personagens, sejam apoiantes ou sejam mesmo actores políticos destacados. Este vídeo de uma infeliz revolucionária do Tennessee é exemplar. A ocupação do Capitólio foi fértil em imagens de crianças com corpo de adulto. O próprio discurso de Trump - e não me refiro apenas ao que antecedeu a tomada do Capitólio, mas ao seu discurso político quotidiano - é de uma infantilidade extrema. Se olharmos para Portugal, o candidato a Trump da paróquia apresenta também as mesmas características, embora mais próximas do adolescente que discute bola com outras adolescentes de clubes diferentes. O universo de todas estas pessoas varia entre o de crianças em idade pré-escolar e adolescentes retardados, ainda com a crise hormonal por resolver. As simplificações com que entendem o mundo, as categorizações que fazem para estruturar a realidade, a forma como se relacionam com aquilo que os contraria, tudo isso denota gente de uma profunda imaturidade. Não admira que o candidato do Chega atraia tantos adolescentes. Estão na mesma onda de vibração.

Esta  infantilização da política não é da agora e não a encontramos apenas nos movimentos populistas de extrema-direita. Ela adequa-se a pessoas que vivem numa sociedade em que o desejo - o desejo de consumir, por exemplo - é continuamente estimulado, que se orientam pelo princípio de prazer, o qual, todavia, choca com a dura realidade frustradora das pulsões. Como crianças que não aprenderam a lidar com a frustração, estas pessoas - uma enorme massa - reagem como crianças e adolescentes que emocionalmente são. Fazem birra, amuam, partem os vidros do carro de quem se lhe opôs. Passam a viver em realidades alternativas, para não terem de enfrentar aquilo que as faz sofrer. São xamãs, chefes índios, cowboys, adeptos da teorias da conspiração, ávidos consumidores de mentiras, de notícias falsas, de tudo o que lhes afague o ego e os conforme nesses patamares da vida onde não se lhes cobra responsabilidade.

Note-se, todavia, que a natureza infantil e adolescentes destas massas e dos seus dirigentes oculta duas coisas. Em primeiro lugar, esconde o quão perigosas são, como se viu no assalto ao Capitólio. Crianças e adolescentes podem ser extraordinariamente agressivos e maldosos para os seus pares, fundamentalmente para os mais fracos. Oculta que por detrás de líderes infantilizados ou dos que permanecem numa adolescência retardada se move gente que não é infantil nem parou nessa adolescência. Descobriram que a infantilização da política é uma forma eficiente para atingirem os seus objectivos de dominação económica e política, de subversão das regras informais e formais da democracia e da destruição do Estado de direito, coisas cuja importância e funcionamento crianças e adolescentes não têm competência nem maturidade para perceber. 

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