quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

O incêndio de Kiev

Marc Chagall - A guerra (1964-66)

Vamos lá ver se me entendo no meio de toda esta barafunda. O que se está a passar na Ucrânia é uma guerra civil (Público), onde pessoas morrem e a violência alastra sem dó nem piedade. Neste momento há dois processos de construção do sentido dos acontecimentos que têm uma característica comum. São absurdamente vergonhosos. Por um lado, aqueles que apoiam a oposição falam de democracia, de direitos humanos, etc. Esquecem que um dos grupos mais activos dessa oposição é nazi. Por outro, os apoiantes do governo falam de luta anti-fascista e, quando a vergonha é nula, anti-capitalista, esquecendo o carácter nada recomendável do poder instalado. O que está em jogo, porém, não são os sentimentos e desejos das diversas facções do povo ucraniano, mas os interesses geopolíticos e geo-estratégicos das grandes potências, isto é, da Rússia e dos EUA, estes acolitados pelos serviçais da União Europeia. No que se está a passar na Ucrânia não há lado bom, mas apenas a maldade do poder, a falta de pudor das grandes potências, a continuação da guerra-fria, bem quente, noutras circunstâncias. O que estamos a assistir não é qualquer batalha pela emancipação dos ucranianos, seja qual for o lado considerado emancipador. Apenas observamos um exercício de pura realpolitik levado a cabo por ambos os lados, sem qualquer consideração pelas pessoas. Luta-se pelo território. Estamos a assistir ao nascimento duma Síria em plena Europa. Talvez um dia acordemos e o incêndio esteja já dentro de casa.

4 comentários:

  1. Já está, o incêndio já está nas casas, não tem labaredas porque arde em silêncio, na vergonha, no medo, na insegurança e na desesperança, e todos os dias é regado a gasolina, mesmo assim, talvez não acordemos, e morte será silenciosa e parecerá tranquila, como a daquelas pessoas que se esquecem de abrir a janela enquanto a lareira crepita e não chegam a ver o dia.

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  2. A Ucrânia, as Ucrânias, não "se" resolve(m) porque não a(s) deixa(m). De um lado, a solidariedade democrática, leia-se, hipócrita. Do outro, a necessidade de demonstrar quem manda em quem.
    O fogo só se propaga depois do último ucraniano arder...

    Abraço

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